É sabido que uma parte dos desportos contemporâneos deriva de práticas sociais antigas, mais ou menos ligadas à guerra ou à luta agónica. Nestes casos transformou-se um exercício para a morte numa actividade de recreio que exige capacidades interessantes como a destreza, a resistência, a força, a inteligência, o golpe-de-vista, etc. O boxe é talvez a única excepção e devia ser fortemente questionado o interesse da sua prática.
No boxe não há gestos simbólicos ou de substituição: o objectivo é mesmo o de atingir o adversário, magoando-o o mais possível, até ao limite do 'Knock Down' ou do 'Knock Out' (o chamado KO, que faz terminar o combate).
É certo que as federações desportivas impuseram algumas regras para este desporto (a duração dos rounds, as contagens de protecção, a interdição de certos golpes, o material das luvas e, para as categorias dos desportistas amadores, um capacete). Mas o essencial do jogo não se alterou: atingir com um soco e da forma mais violenta possível uma zona frágil do corpo do outro.
O boxe recruta a grande maioria dos seus praticantes entre as camadas mais pobres e rudes da sociedade, mas é um 'business' com sucesso devido sobretudo ao público que atrai e se comporta de maneira sádica perante um tal espectáculo. Também são conhecidos casos de graves lesões (até mortais) devido aos golpes recebidos no cérebro.
É admissível que o boxe possa ser ensinado em certas formações, profissões ou circunstâncias, com objectivos de auto-defesa pessoal. Mas é surpreendente que nunca tenhamos visto gente dos “direitos humanos” a denunciar um tal desporto e que o mesmo tenha lugar cativo nos próprios Jogos Olímpicos. E é mesmo ambivalente e dúbia a forma como o cinema o tem utilizado como argumento.
Quando até os espectáculos taurinos são contestados por alguns, é estranha a indiferença e a tolerância com que as nossas sociedades encaram o boxe.
JF/4.Mar.2011
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sexta-feira, 4 de março de 2011
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