A ferro, a fogo e a sangue (e com os dinares do petróleo), Kadafi conseguiu restabelecer o seu domínio em Tripoli e, sucessivamente, nas outras cidades da costa, salvo no leste, em Bengazi e Tobruk.
Esta é a mais pungente das situações de conflito doméstico, quando um poder despótico e corrupto vê surgir um levantamente popular contra si e consegue repor a situação por meio da violência e de uma repressão impiedosa e vingativa: é o explendor da contra-revolução. Já aconteceu muitas vezes na história, mas será a primeira vez que o mundo inteiro pôde ver imagens e algumas cenas em directo, que nos permitem perceber o que por ali se vai passando.
Salvaguardadas as devidas diistâncias, a situação tem parecenças com as atitudes
externas perante guerra civil de Espanha de 1936-39: “não-intervenção”, “solidariedade”…
Agora, quando os aviões e a artilharia de Kadafi pareciam ir vencer militarmente a rebelião popular, as potências ocidentais intervêm militarmente, sob mandato da ONU, para impedir o coronel de continuar a massacrar civis. Não colocam soldados no terreno mas, para garantir uma “zona de exclusão aérea” e proteger os rebeldes em Bengazi, têm de bombardear alvos no solo, com baixas inevitáveis. Devia a comunidade internacional ter agido desta sorte? O apoio inicial da Liga Árabe parece já estremecer e não vão faltar vozes a acusar mais esta “agressão do imperialismo norte-americano”, enquanto outros não deixarão de verberar a “tardia e limitada solidariedade internacional” para com o povo líbio (apesar do tom muito favorável dos mass media em relação aos rebeldes).
A situação tornou-se, de facto, muito difícil, dada a personalidade do intratável ditador líbio, a conflitualidade agónica agora existente naquela sociedade e as mobilizações emocionais que estas acções vão provavelmente provocar no mundo árabe.
E veremos como vão as potências ocidentais (sobretudo a França e a Itália, mais frágeis pelas características das suas lideranças) lidar com os próximos desenvolvimentos, pois o petróleo tem um peso decisivo na economia mundial e ninguém pode responsavelmente querer agravar a actual crise conjuntural.
Mas o mais grave e urgente é a sorte dos insurrectos (ou vistos como tais pelos apoiantes de Kadafi), quaisquer que fossem as suas motivações. Como diziam os espanhóis: “Ay de los vencidos!”.
JF / 20.Mar.2011
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