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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Reinvindicações com armas

Os homens armados metem sempre medo. Contudo, no Ocidente democrático pós-segunda guerra mundial os últimos “pronunciamentos militares” vencedores foram o dos coronéis gregos em 1967 e o dos capitães portugueses de 1974, este de sentido libertador. Mas na América Latina, em África, no Médio-Oriente e na Ásia as mudanças de poder político continuaram a fazer-se por esta via, embora talvez com uma frequência declinante.
Também a estruturação de uma vida política internacional muito intensa nos últimos 70 anos, com redução da ocorrência de guerras, terá permitido a contracção dos efectivos militares e concentrado a sua disponibilidade para intervir apenas em conflitos excepcionais.
Em contrapartida, a (in)segurança das populações tornou-se uma preocupação importante dos governantes, não tanto pelo imperativo da “lei e ordem” mas por força das próprias exigências dos eleitorados, tendo em vista a preservação do bem-estar alcançado. Nestes termos, as armas (letais, mas também as informações, a organização, os recursos técnicos) capazes de coagir os cidadãos ou os seus representantes passaram dos militares para as mãos dos polícias.
Como força civil, estes agentes mantêm entre nós quase todas as prerrogativas constitucionais dos cidadãos, incluindo o direito de reivindicação, de associação sindical e de negociação colectiva de trabalho. Mas, para além do argumento da ausência de segurança nas ruas, é o próprio facto de não ser pensável uma negociação laboral com as pistolas dos sindicalistas penduradas no cabide que obriga a algumas restrições, como é o caso da exclusão da prática da greve.
Contudo, seja pela lógica continuada da reivindicação e da “luta”, seja pelo aproveitamento que minorias políticas organizadas fazem destas associações, os activistas encontram sempre maneira de contornar ou instrumentalizar as normas para fazer ceder os “patrões” às suas exigências corporativas.
O Brasil não é propriamente um daqueles estados de África onde os polícias utilizam a sua arma para fazer pagar aos cidadãos o que não recebem do seu governo; o país está em plena expansão económica. Pois, mesmo acreditando que estas forças policiais tenham legítimas necessidades não satisfeitas ou razões de queixa do que lhes foi prometido e realmente negado, é espantosa a desenvoltura com que estes funcionários públicos se metem em greve, interrompem a “cadeia de comando”, ocupam instalações e fazem ameaças várias aos responsáveis políticos. É claro que estes dão frequentemente péssimos exemplos de “virtude republicana”, com atrasos nos pagamentos, acusações de corrupção, actos de compadrio e gestos ou atitudes de populismo. Sabe-se também como estão pressionados pelos compromissos de ordem internacional assumidos (festas, eventos, competições desportivas).
Mas, tal como outros profissionais colocados em pontos cruciais do funcionamento das nossas sociedades (transportes e comunicações, sistema bancário, abastecimentos, primeiros socorros, etc.), o pessoal dos serviços de segurança não pode exorbitar dessa sua vantagem nem, muito menos, acenar com o uso da força física que detêm.
Ou será preciso que estes sindicalistas frequentem um curso intensivo de formação em cidadania?
JF / 17.Fev.2012

1 comentário:

  1. na antiga grecia ,que foi o berço da nossa civilaçao e o mundo civilizado como o conheçemos ,o que distinguia um homem livre ,de um escravo ,era a arma que o primeiro portava .

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