Contribuidores

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

NATO, liberdade e opressão

A NATO sempre provocou divisões nas opiniões públicas europeias, sobretudo por causa do papel nela exercido pelos Estados Unidos. O sector comunista e o esquerdismo qualificaram-na como a “ponta de lança do imperialismo”, a esquerda moderada dividiu-se entre reticentes (como Manuel Alegre) e “atlantistas”, os primeiros fazendo companhia aos “gaulistas” e a outras variedades de nacionalismos, os segundos alinhando com democratas-cristãos, liberais e conservadores no reconhecimento de que era do interesse da Europa essa aliança com os norte-americanos, sobretudo quando uma ameaça político-militar soviética pendia sobre as suas cabeças.
Depois do fim da “guerra fria”, a NATO tem tergiversado acerca da sua função, meios e objectivos. A “ameaça islâmica radical” e o “terrorismo internacional” têm aparecido como dois inimigos das democracias liberais ocidentais, que poderiam exigir a sua existência e obrigar a certas reconversões. Mas, além de uma vaga percepção destas ameaças e dos choques emocionais causados por meia dúzia de grandes atentados, mantém-se fluida e pouco concreta a consciência colectiva acerca do grau de risco que isso representa para os povos do ocidente e do mundo. E, num planeta super-informado de meias-verdades e muitas mentiras, não basta os responsáveis afirmarem que a paz de que gozamos se deve à acção dos serviços secretos que lograram neutralizar muitas outras acções terroristas que, sem eles, teriam tido efeitos devastadores.
Cimeiras mundiais como esta que a NATO realiza em Lisboa suscitam sempre manifestações públicas por parte de discordantes e opositores, como é o caso da “PAGAN” (Plataforma Anti-Guerra, Anti-NATO), surgida há alguns meses. Até aqui, tudo bem, pois estamos no pleno uso da liberdade de expressão dos indivíduos e dos movimentos sociais ou políticos. Mas não é apenas “exagero policial” a constatação de que, desde Seattle em 1999, essas manifestações atraem quase sempre, para além de militantes pacíficos, uns tantos “desordeiros profissionais” que podem hoje deslocar-se de avião aonde existam “pontos quentes” (como os hooligans do futebol) e usam meios de comunicação modernos (Internet, telemóveis, etc.) para coordenaram as suas acções e provocarem alguns danos urbanos espectaculares capazes de serem retransmitidos pelos media para todo o planeta. Esta mistura de intenções e formas de expressão é sempre muito mais problemática.
Quanto à NATO e às guerras actuais, podem existir várias opiniões legítimas, com o lastro de uma esquerda tradicionalmente mais “pacifista” e uma direita mais “militarista”, mas onde o marxismo leninista veio introduzir a inovação, mais cínica, de “olhar o poder pela mira da espingarda”, o que veio baralhar muitas consciências. E até anarquistas históricos portugueses como Germinal de Sousa ou José de Brito, com fartos currículos pessoais de revolucionários, tiveram então a coragem de escrever que foi a NATO que impediu que todos nós, na Europa, tivéssemos sido “sovietizados”.
Serão dessa natureza (opressão versus liberdade) as ameaças que espreitam hoje as sociedades razoavelmente respeitadoras das liberdades individuais que tanto apreciamos?
JF / 12.Nov.2010

3 comentários:

  1. O fim da guerra fria parece ter demonstrado que a estratégia atlantista encabeçada pelos EUA e corporizada na NATO foi sempre global. Vale a pena olhá-la na óptica da estratégia dos EUA e não na perspectiva Europeia que, de resto, teve o seu território ocupado pelas tropas americanas "libertadoras". Tornou-se para os europeus uma força mais simpática para essa Europa com o "DeGualismo" com que os americanos antipatizaram.
    Eles eram os "bons" porque do lado de lá estavam os "maus" (o Pacto de Varsóvia), tal como cem anos antes os liberais tinham sido os "bons" porque tinham antes de si (e foram contra) o absolutismo monárquico e a sua aristocracia. Teremos de arranjar melhores argumentos para defender o status quo e a organização que a sustenta. Tendo terminado a ameaça comunista para que serve REALMENTE a NATO? E vistas as coisas como a história as tem revelado (e como o caso recente da China mostra às avessas), não serão os territórios fechados ao capitalismo (ao investimento internacional, à economia de mercado comandada pelos EUA) o seu verdadeiro inimigo mais do que as ideologias? Não precisa esse poder de um inimigo público construído à sua medida? Compreende-se que o Estado português queira lá estar, pois o realismo domina quem é poder (tal como a utopia seduz que pretende ser um contra-poder).

    ResponderEliminar
  2. Esta "guerra" anti-NATO do PCP e esquerdistas portugueses está completamente desfasada no tempo, pois o diferendo Leste/Oeste faz apenas parte do passado. Tal como qualquer partido comunista depois da queda do Muro de Berlim.
    Com a manif que patrocinam em 20 Novembro próximo, os comunistas portugueses apenas vão dar azo a que provocadores profissionais façam depredações nas ruas, montras e automóveis dos pacíficos cidadãos.
    Manuel Bernardo

    ResponderEliminar
  3. No entanto, a “Monsanto”, uma multinacional norte-americana do sector alimentar, sediada na cidade de Saint Louis, no Estado do Missouri, interpôs um liminar de mandado de segurança (previdência cautelar) impedindo a publicação e distribuição da cartilha.

    No estrolabio, como uma multinacional afronta um país, neste cas o Brasil.

    ResponderEliminar

Arquivo do blogue