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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Secretário-geral da ONU

Hoje, 5 de Outubro, soube-se que António Guterres será o próximo secretário-geral da ONU. É uma rara distinção, que o próprio fez por merecer e que gratifica também o nosso país, no seu conjunto. Neste caso – tal como em 1999 por causa da independência de Timor-Leste, quando o mesmo Guterres era primeiro-ministro de Portugal e teve nesse processo uma intervenção decisiva –, o país soube unir-se, superando as suas divisões internas: então, com assinalável participação popular e o envolvimento da Igreja Católica; agora, com uma boa conjugação de esforços de todos os agentes políticos (e certamente com uma acção preponderante de Belém).
Como político do PS, o engº António Guterres foi um parlamentar aguerrido que alguns acusaram de “tirar o tapete” ao seu líder Jorge Sampaio. Era visto como “apaixonado pela educação” e sempre “aberto ao diálogo”, mostrando como governante (sem maioria na Assembleia) alguma dificuldade em tomar decisões difíceis. Por exemplo, deixou progredir o “facilitismo” na educação, entregou o processo de adesão ao Euro a Sousa Franco e das obras públicas a João Cravinho, limitando-se a “cumprir calendário” no êxito mitigado que foi a “Expo-98”. Nessa época, foi vencido duas vezes pela matreirice política de Rebelo de Sousa, líder do PSD, ao perder os referendos que aceitou (sobre a regionalização e o aborto). E deixou o país estupefacto e incrédulo quando abandonou o governo em 2002 após derrota em autárquicas “porque não queria deixar o país num pântano”, ninguém percebendo completamente o alcance desta tirada.
Depois, afastou-se realmente da cena política portuguesa. Católico praticante, Guterres mostrou grande emprenho e sensibilidade aos problemas humanitários enquanto alto-comissário da ONU para os refugiados, apesar dos escassos meios de que dispôs. Mas não terá conseguido corrigir as recorrentes acusações de mau desempenho de algumas ONG e de outros intermediários no encaminhamento de socorros aos verdadeiramente necessitados. E foi incapaz de começar a reverter a situação de alguns campos de refugiados instalados há várias décadas, com o sustento e sob a protecção das Nações Unidas, mas onde se diz que agentes políticos radicais actuam à vontade na catequização dessas populações fragilizadas e recrutam combatentes para as suas organizações. Mas esses eram desígnios que certamente estariam para além de onde a sua actuação poderia alcançar.
Agora, o lugar de secretário-geral da ONU é ainda mais espinhoso e de maior responsabilidade. Há, desde logo, os teatros de guerra, com êxodo de populações, que seria mister travar. Há a reforma do Conselho de Segurança, eternamente adiada. E há o funcionalismo da organização, sobre o qual existem queixas de ineficiência e despesismo. Veremos o que o novo rosto da ONU será capaz de fazer. Boa sorte!
E viva a República!

JF / 5.Out.2016    

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