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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Bilhete-postal a um jovem 'indignado'

Fizeram-te estudar anos a fio. Disseram-te que um curso “superior” era um passaporte para um bom emprego e uma vida feliz. No mínimo, garantiram-te que, com uma “formação”, podias sempre desenrascar-te melhor e até teres a tua própria empresa.
Afinal, os anos têm passado e vês que tudo isso é uma miragem. A crise serve de justificação para todas as alterações mas o certo é que é cada vez maior o número dos teus amigos a queixarem-se dos trabalhos precários uns atrás dos outros, e dos biscates a baixo preço. Mesmo da malta com estudos, só os betos têm bons empregos, e muitos só se safam em call centers ou em supermercados, onde não fazem nada do que andaram a aprender.
Por isso, vês que o pessoal da tua geração anda todo chateado e diz que o melhor é esquecer e aproveitar a noite, numa de copos e música, e o que der…
Mas agora, por todo o lado, até na América, há malta indignada, que armam tendas frente aos municípios ou parlamentos para protestar, exigir empregos e segurança social. Têm sido manifestações porreiras. O pessoal diverte-se à farta. E quando a bófia exagera, o pessoal resiste. Eles que não se metam… Fintamos os tipos, convocando por telemóvel para locais inesperados… E a malta grita que os políticos vão roubar para outro lado. Democracia é o povo a mandar! Vejam o que fizeram no Egito…
Estas, são bocas que ouves cada vez mais.
Se for caso disso, “acampa” também com os teus amigos, discutam e protestem contra estas coisas. Mas isolem os excitados que vos apelam a ir “partir esta merda toda” e desconfia dos que observas estarem visivelmente a gostar de ser líderes ou porta-vozes destes movimentos de protesto: geralmente estão a preparar-se para “acampar” para o resto da vida nessa função (mais tarde devidamente recompensada…)
Pensa, porém, que nada cai do céu (a não ser a chuva) e que a vida em jovem dos teus pais foi bem mais dura do que a tua; e da dos teus avós nem é bom falar...
Ainda bem que possas ter computador e telemóvel, mas talvez devas começar a habituar-te à ideia de que não vai haver motas e carros para todos. Sobretudo quando milhões de chineses e indianos, africanos e brasileiros ainda passam mesmo muito mal, sem o mínimo.
Nem imaginas o que era dantes viver aperreado, com os chúis a prender na rua por tudo e por nada – e isto ainda se passa em muitos lados. Agora, podemos experimentar o sexo e entregarmo-nos ao outro. Mas cautela com as imprevidências! Fazer um filho, é a maior responsabilidade que se pode ter na vida! E educá-lo, claro! É uma obrigação, a que só fogem os fracos e os cobardes. Além disso, procurem guardar a vossa intimidade. O amor não é o deboche. E podes crer que um dia acharás idiota e foleiro o tipo de espectáculos de exibicionismo e “voyeurismo” que hoje talvez te fascinem na TV ou nos filmes.
A música, pode ser óptima para se ouvir. Mas em excesso provoca-nos a surdez, tal como o álcool e as drogas levam sempre à destruição de cada um de nós: física e da nossa dignidade.
Por isso, no fim do divertimento, da discoteca ou do futebol, tira os auscultadores e pensa também no que pode ser a tua vida daqui a dez anos: o trabalho que melhor te poderá servir; a relação íntima que desejas com alguém; o mundo que mais te agradaria partilhar. Talvez valha a pena.
JF / 28.Nov.2011

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