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sábado, 22 de dezembro de 2012

Esquerdas e direitas

(Os meus amigos destas áreas políticas vão-me “cruxificar” mas prefiro escrever o que penso, como sempre fiz ao longo destas décadas.) As forças políticas de extrema-esquerda (de difusa influência marxista) não têm, nem apoio popular, nem programa que lhes permitam governar este país (ou qualquer outro da vizinhança). Se, em caso de catástrofe, chegassem ao poder, tomariam medidas que nos isolavam do contexto internacional e que rapidamente conduziriam ao estrangulamento económico e ao empobrecimento geral – de que elas sempre culpariam o “inimigo externo”, auxiliado pelos “sabotadores caseiros”. Mas têm força bastante para se opor com êxito a quase todas as políticas reformistas intentadas por terceiros.
Observemos contudo que, como força de oposição, elas são um eficaz contra-peso a lógicas governativas perpetuadoras de desigualdades sociais estruturais que, de outro modo, poderiam até agravar-se. Mas já são cegas quanto à emergência de novas desigualdades porventura resultantes dessas defesas à outrance.
A esquerda democrática socializante, que já adquiriu uma cultura de exercício do poder, posiciona-se de modo diferente: acredita nas “políticas públicas”, nos “serviços públicos” e na prevalência do “interesse público”. Concretiza, de facto, certas reformas sociais, algumas duradouras. Porém, modernamente, aprendeu com facilidade a lidar com o grande empresariato e a alimentar interesses específicos de uma nova classe de gestores. Tem igualmente tendência para inchar o funcionalismo e agravar a despesa do Estado, aumentar os impostos ou, quando é incauta, levar a dívida pública para níveis incomportáveis.
Os partidos de direita civilizados, sejam eles conservadores, liberais ou democratas-cristãos, governam de modo diferente, acomodando-se aos grandes interesses privados, apostando mais no mérito e na penalização individuais, reservando dinheiro dos impostos para assegurar apenas ‘mínimos’ de protecção social e mostrando inclinação para acenar ao eleitorado com reduções de impostos (que nem sempre se concretizam) e para serem mais ríspidos na perseguição dos comportamentos desviantes. Apresentam diferenças entre si, mas tendem todos a preservar a desigual distribuição de riqueza existente e as posições sociais já adquiridas. 
Não falamos aqui de nazismos e fascismos (ou de falangismos e salazarismos) porque se trata de outra ordem de ideologias e comportamentos – hoje felizmente reduzidos a quase nada, embora a crise económica e o desemprego tendam sempre a suscitar os receios de súbitas adesões maciças a algumas das teses dos partidos populistas de extrema-direita (nacionalismo, xenofobia, cesarismo).
Mas todos, todos, têm a péssima tentação das promessas aliciantes para o “zé povo”, para captar mais alguns votos.
Dentro do “arco da governabilidade” existe um largo consenso ditado pelo realismo económico e pela consciência da globalização contemporânea. Aqui não é questão de mais ou menos “neo-liberalismo”, ou da vontade de manter ou de reformar o “sistema”. Prova-o o facto de, apesar das respostas políticas de esquerda e de direita continuarem a distinguir-se entre si em diversos domínios e circunstâncias, todos aceitarem a economia de mercado e um papel do Estado na sua regulação.
O que aqui existe, sim, é o risco da oligarquização da política, monopolizada sempre pelos mesmos, em circuito fechado, apesar do rotativismo ou da alternância: os estados-maiores partidários decidem; os eleitos cuidam das suas carreiras e interesses; os militantes agitam-se – sempre cada vez mais divorciados do sentir e dos problemas das populações. E mais grave ainda quando estes decisores se eximem dos “cortes” que legislam para todos os outros, quando se envolvem com os “grandes negócios” ou surgem fumos de corrupção.
Isso é que é dificilmente aceitável por cidadãos livres e, crescentemente, por uma opinião pública mais bem informada.
JF / 13.Dez.2012

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