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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2009 ao presidente americano Barak Obama constituiu uma supresa, sendo geralmente considerada como extemporânea, mas vista como um encorajamento aos esforços já feitos para mudar a política externa do seu país no sentido da negociação e da resolução pacífica dos conflitos.
Não foi tão evidenciado o efeito de constrangimento e inibição da sua capacidade de acção para usar os instrumentos de força se isso vier a ser necessário. Se a situação no Afeganistão, no Paquistão, no Irão, ou mesmo no Iraque e na Palestina se degradar e puser em risco equilíbrios essenciais ao mundo (e, antes de tudo, aos EUA, claro está), Obama terá contra si o peso universal deste galardão. Vale a pena apontar este facto, sobretudo no contexto da presente crise económica global. E oxalá tal limitação não venha a produzir resultados inversos àqueles que se desejam promover: não seria a primeira vez.

No cenário caseiro, com a maioria das pessoas vergadas aos efeitos da recessão e um presidente lamentavelmente enfraquecido, os votos ditaram uma continuação dos mesmos no governo, mas agora sem poder. Podemos estar descansados que não haverá “asfixia democrática” (salvo na Madeira) e talvez avance o TGV, a 3ª travessia do Tejo e o aeroporto. Mas sem um novo aperto no sector público não se vê como o défice diminuirá, a Justiça dará um salto em frente e, finalmente, a economia voltará a crescer sustentadamente e ser capaz de reduzir a dívida externa, perdida já que foi boa parte da indústria exportadora tradicional. E com novo aperto no sector público, o governo não se aguentará por muito tempo.
O eleitorado foi esperto e prudente, continua a não confiar em novos partidos sem experiência e afinal não é tão abstencionista como se pensava. Mas só lhe falaram em “verdade”, “PME’s” e “apoios sociais”. Nem uma palavra sobre a crise ambiental, a União Europeia, a violência no Médio-Oriente, a reforma da ONU ou sequer uma crítica ao negocismo sem princípios das nossas relações externas com a Líbia ou a Venezuela (ressalvada a segurança da comunidade lusa local). Ora, se é o “exterior” que sobretudo condiciona a vida dos portugueses, esses temas não deveriam ser excluídos do debate público, pois haverá vários modos de os enfrentar.
Afinal, os dados estão trocados: o “consenso externo” é que devia ser mais discutido; e a “gestão interna” talvez devesse ser mais consensual. Mas parece que isso não interessa aos “donos da política”.
JF / 25.10.2009

4 comentários:

  1. Vou "linkar" ao http://leandroontheroad.blogspot.com
    Abraços (livres)

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  2. Excelente esse contraste entre o consenso externo e o dissenso interno quando, se fossemos um país para a frente, poderia ser ao contrário. Mas tornarmos-nos um país para a frente não é pedir mais do que uma revolução? Seria um retorno a 1383! E onde estão os Príncipes Perfeitos?

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