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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Duas, é demais! (o Estado que temos, o Estado que queremos)

17 de Junho e 15 de Outubro de 2017 são duas datas negras que ficam a rasgar a maré de optimismo em que o país parecia instalar-se de há ano e meio para cá.
Responsável ministerial, chefe-do-governo e Presidente desentenderam-se finalmente, perante a amplitude da tragédia em que os fogos florestais mostraram a fragilidade das nossas condições estruturais e a debilidade das instituições e procedimentos que temos vindo a pôr de pé para responder aos desafios colectivos da nossa época. Dizia-se que o boom turístico cessaria desde que mão inimiga planeasse e executasse um ou dois atentados terroristas em solo português. A população portuguesa tem agora mais consciência (embora fixada sobretudo no plano emocional) de que um sismo, uma grossa tempestade ou um gravíssimo acidente serão suficientes para deixar o país num caos, sem que as organizações especializadas (dentro ou a partir do Estado) sejam capazes de actuar com a eficácia que as circunstâncias exigem.
Mas o Estado tem costas largas. O Estado já foi a força ao serviço de certas famílias, justificando-o como “a vontade de Deus na Terra”. O republicanismo idealizou o Estado como a representação institucional de toda a nação. Já se teorizou que o Estado era o instrumento de dominação de uma classe social (definida pela posse das rédeas da economia). Falta conceber o Estado como o lugar geométrico onde os arrivismos pessoais e as corporações de todo o tipo se instalam e confrontam entre si, dispondo dos bens públicos para a satisfação dos seus melhores interesses e produzindo os mais elaborados discursos teóricos e propagandísticos para convencer “o povo” de que assim obtém a melhor governação possível. Entre muitos outros, Portugal parece querer enfileirar nesta última categoria.
É contudo esperançosa a ideia que começa a germinar em certos sectores de que o Estado nacional deveria, acima de tudo, preocupar-se com o interesse geral e o bem comum das populações que o constituem e suportam; com os seus agentes, organismos e responsáveis a mais não serem que os mandatários da “vontade popular” (apurada através de algum modo satisfatório de verificação). Esperançosa ideia – na condição de que cada cidadão se consciencialize e comporte com parte activa e responsável desse mesmo Estado.     

JF / 17.Out.2017

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