17 de Junho e 15 de Outubro de 2017 são duas datas
negras que ficam a rasgar a maré de optimismo em que o país parecia instalar-se
de há ano e meio para cá.
Responsável ministerial, chefe-do-governo e Presidente
desentenderam-se finalmente, perante a amplitude da tragédia em que os fogos
florestais mostraram a fragilidade das nossas condições estruturais e a debilidade
das instituições e procedimentos que temos vindo a pôr de pé para responder aos
desafios colectivos da nossa época. Dizia-se que o boom turístico cessaria desde que mão inimiga planeasse e
executasse um ou dois atentados terroristas em solo português. A população
portuguesa tem agora mais consciência (embora fixada sobretudo no plano
emocional) de que um sismo, uma grossa tempestade ou um gravíssimo acidente
serão suficientes para deixar o país num caos, sem que as organizações
especializadas (dentro ou a partir do Estado) sejam capazes de actuar com a
eficácia que as circunstâncias exigem.
Mas o Estado tem costas largas. O Estado já foi a força ao serviço de certas famílias,
justificando-o como “a vontade de Deus na Terra”. O republicanismo idealizou o
Estado como a representação institucional de toda a nação. Já se teorizou que o
Estado era o instrumento de dominação de uma classe social (definida pela posse
das rédeas da economia). Falta conceber o Estado como o lugar geométrico onde
os arrivismos pessoais e as corporações de todo o tipo se instalam e confrontam
entre si, dispondo dos bens públicos para a satisfação dos seus melhores
interesses e produzindo os mais elaborados discursos teóricos e
propagandísticos para convencer “o povo” de que assim obtém a melhor governação
possível. Entre muitos outros, Portugal parece querer enfileirar nesta última
categoria.
É contudo esperançosa a ideia que começa a germinar em
certos sectores de que o Estado nacional deveria, acima de tudo, preocupar-se
com o interesse geral e o bem comum das populações que o
constituem e suportam; com os seus agentes, organismos e responsáveis a mais
não serem que os mandatários da “vontade
popular” (apurada através de algum modo satisfatório de verificação). Esperançosa
ideia – na condição de que cada cidadão se consciencialize e comporte com parte
activa e responsável desse mesmo Estado.
JF / 17.Out.2017
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