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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Lisboa futura

Quando as actuais crianças-de-escola forem adultos maduros, lá para meados do século, Lisboa deverá ter mudado enormemente. Imaginemo-la um pouco.

Desejando que nenhum abalo sísmico ou atentado possa vir perturbar a vida da cidade, é provável que os pólos de fervilhamento urbano e turístico de Belém e da Baixa pombalina continuem a afirmar-se, com a reabilitação dos edifícios antigos, novos centros de atracção e meios de transporte relativamente eficientes. Em contrapartida, os bairros tradicionais (Madragoa, Bica, Bairro Alto, Mouraria, Alfama, Castelo ou Graça) terão excluído os seus últimos habitantes populares para dar lugar à classe média, portuguesa e estrangeira. O cosmopolitismo da Baixa e do eixo da Almirantes Reis acentuou-se, este último cada vez mais orientalizado, com “muitas e desvairadas gentes”.

Esta alteração do povoamento foi acompanhada de medidas adicionais de protecção e melhoria do espaço público, da segurança e da qualidade de vida, com interdição ou limitação rigorosa da circulação automóvel em perímetros alargados das “zonas históricas”: colinas da Graça, Santana, Príncipe Real, Campolide, Campo de Ourique: baixas e vales de Chelas, Arroios, S. Bento e Alcântara. Porém, a faixa ribeirinha foi submetida a intensa pressão de urbanização construtiva, salvaguardando o património edificado mais significativo, pondo à vista achados arqueológicos interessantes, mas levantando torres, escavando estacionamentos e adensando a densidade populacional (permanente e transitória) deste “casco urbano”. Com o atraso de algumas décadas em relação ao que se fez no estrangeiro, toda a antiga zona portuária é hoje um dos espaços mais belos e atractivos da capital.

As “grandes obras” foram retomadas, com capitais estrangeiros (europeus, americanos, africanos, indianos, japoneses e sempre chineses) sobretudo para resolver os problemas da circulação urbana: 1) prolongamentos do Metropolitano do Rato até Alcântara (com o grande “nó” aí previsto e renovação do comboio de Cascais, ligando-o finalmente à linha de cintura), de S. Sebastião até Campo de Ourique, de Telheiras à Pontinha e de Odivelas a Loures, com túnel de articulação à renovada linha ferroviária do Oeste (Contudo, o revolucionário projecto japonês do “Metro das Colinas”, saindo de Santa Apolónia, subindo à Graça e Sapadores para passar em viaduto à colina de Santana e desta, por modo idêntico, ao Príncipe Real, terminando na Estrela ou em Alcântara, estará ainda em vias de execução, devido a complicações técnicas e financeiras entretanto surgidas); 2) enterramento do comboio do Cais do Sodré até Algés; 3) eléctricos rápidos de Alcântara ao Jamor e do Terreiro do Paço ao Parque das Nações; 3) túnel rodoviário ligando a Av. 24 de Julho à Infante D. Henrique, para libertar a Praça do Comércio; 4) terceira ponte (rodo-ferroviária) sobre o Tejo, como estava programada desde o início do século; 5) e o novo aeroporto em Alcochete.

O esvaziamento do espaço aeroportuário da Portela de Sacavém (que todavia reteve um heliporto de boas dimensões) permitiu abrigar ali a nova Gare Ferroviária Central da capital e desenvolver ao máximo a urbanização na Alta de Lisboa onde, aproveitando a altitude do lugar, uma enorme torre-miradouro de telecomunicações permite agora aos turistas uma fabulosa vista de 360º, de Sintra a Cascais, a Palmela e a Santarém. Foi uma “quarta centralidade” de Lisboa que ali nasceu (depois da Baixa, Belém e Parque das Nações): onde antes eram quintarolas e depois foram barracas e “bairros sociais”, vive agora gente da classe média-alta em seguros condomínios fechados e existem alguns espaços e equipamentos colectivos de boa qualidade. Está mesmo projectada para ali a “nova ópera de Lisboa” (quando houver um mecenas que ajude o financiamento).

Entretanto, as populações segregadas para fora da Lisboa pós-moderna foram-se acumulando nos concelhos de Amadora, Sintra, Odivelas, Loures e Vila Franca (além, da margem sul), criando problemas que os respectivos autarcas têm dificuldade em resolver.

Mas a capital portuguesa já ombreia de novo com outras grandes urbes europeias!


JF /22.Jan.2017

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