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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A rádio e televisão públicas

Toda a gente deu a sua opinião perante os primeiros prenúncios da mexida que vai afectar a RDP e a RTP. Eu vou também aqui exprimir a minha.
Como muitos outros, acho que, em geral, a qualidade dos programas da RTP tem sido sempre  superior à dos canais privados (parabéns ao genérico do “Prós e Contras” e a alguns dos seus debates). Isto, a despeito da longa tradição do serviço informativo estar (mais ou menos) sempre ao serviço do governo e, com a maior autonomia verificada desde há anos, da sua tendência para consolidar as forças já institucionalizadas e com capacidade de pressão, em prejuízo do que pode ser inovador. É quase inevitável que assim seja. Mas, por outro lado, o apetite pelas “grandes audiências” é sempre o caminho mais directo para uma programação de qualidade medíocre, frequentemente péssima. E já nem o caso paradigmático da BBC nos pode servir hoje de orientação.
Tal como muitas outras pessoas, acho que o que custará mais caro à RTP nada tem a ver com a noção de serviço público, sejam telenovelas e programas de entretenimento como a “Praça da Alegria” ou o “Preço Certo”, sejam os desafios de futebol, os concursos que pagam royalties à Endemol ou os filmes de violência. Não vem grande mal ao mundo de se ouvirem na rádio da Antena-2, entre boa música, alguns dislates do sr. Joel Costa; mas as emissões da Antena-3 podem ser qualificadas de serviço público?
Os canais privados de televisão, alimentados apenas pelas receitas da publicidade, garantem esse tipo de oferta e mesmo, actualmente, uma parte interessante da informação, com a pluralidade mínima indispensável. Nesse aspecto, Pinto Balsemão tem razão em protestar contra a concorrência desleal que a RTP1 faz às estações comerciais.
Por outro lado, a RTP gasta sempre mais do que pode e o seu endividamento soma-se ao de quantidade de outros entes públicos mais ou menos autónomos. É uma máquina burocrática mais pesada do que qualquer privada da concorrência, beneficiária de um entendimento tácito entre as estruturas representativas dos seus funcionários, o lobby dos “artistas portugueses” e os partidos adeptos confessos do “serviço público” (a qualquer preço, embora não o confessem).
Mas a RTP e a RDP fazem também (mais ou menos bem) – ou deveriam fazer – aquilo que nenhuma estação privada fará: programas culturais e de música de qualidade, apenas apreciados por públicos minoritários; divulgação científica e educação cívica; informação local ou regional; emissões para os portugueses da diáspora e para os países da CPLP; comunicados oficiais e “direito de antena”; programas educativos para crianças e jovens; emissões para públicos-alvo desatendidos pelos mass media, como os deficientes, os estrangeiros, os ciganos e outras minorias. Isso é que deveria constituir a missão exclusiva de um canal de televisão e outro de rádio detidos pelo Estado, sem publicidade e pagos pelos dinheiros públicos.
Para um tal serviço não seriam necessários os “cabeças-de-cartaz” que nos custam tanto dinheiro e de cuja evidenciação imagética depois eles beneficiam em exclusivo. As estações privadas que disputassem entre si, ao preço que entendessem, um José Rodrigues dos Santos ou uma Catarina Furtado (pessoas estimáveis par ailleurs) –  podendo também ficar com os administradores super-bem-pagos! Haverá decerto muitos funcionários públicos à altura de os substituir.
JF/ 28.Set.2012    

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