Depois da última visita da “troika” de prestamistas ao Estado português, aí estão pré-anunciados os novos sacrifícios impostos ao povo que o próximo orçamento vai pôr em letra de lei.
Agora, virá mais um agravamento do IRS (para quem o paga), os trabalhadores assalariados perdem mais 7% do seu poder de compra com o desconto para a segurança social (que aliviará a carga salarial das empresas – mas ninguém vê como funcionará essa “conta contabilística” de que falou o ministro para travar a sua apropriação por accionistas e empresários, senão como mais uma burocracia estatal) e os pensionistas levam finalmente o corte prometido desde o início (a partir dos 1.500 Euros e que vai até aos 10% no nível dos 4.000, números redondos). Tudo isto sem que se perceba ainda muito bem o destino das subtrações do 13º e 14º mês, com o aumento anunciado do IMI sobre os bens de raiz (serão sobretudo as casas que habitamos) e com a inflação que, apesar de controlada, todos os anos vai corroendo o nosso poder de compra. Além de outras reduções em prestações sociais e subidas de taxas – pequenas coisas que são grandes para os muitos quem têm muito pouco.
É verdade que, desta vez, o governo parece tocar também alguma coisa nos muito ricos. Mas continua a poupar-se de medidas capazes de impressionar a população quanto ao necessário exemplo dos-de-cima e à “equidade” dos sacrifícios que vem impondo à classe média e aos jovens adultos como seriam, por exemplo, um corte de 20% nas remunerações de base e acessórias dos detentores de cargos políticos, altos funcionários e gestores públicos, a redução do número de “eleitos” ou a proibição de acumulação de “reformas douradas”. Isto não resolveria minimamente a nossa situação financeira. Mas só medidas corajosas deste tipo poderiam dar alguma credibilidade à acção governativa nas circunstâncias actuais.
É que, com boa dose de razão, o instinto popular atribui à classe política a culpa da grave situação em que vivemos. E esta parece não querer entender isto. Há meses atrás, PSD e CDS culpavam o governo de Sócrates pelo descalabro das contas públicas. Hoje, é já o PS que julga poder dizer que a crise económica em que o país se afunda é da responsabilidade única do governo. O costume…
O que nos parece certo é que, independentemente da dose de austeridade que for metida nas finanças públicas – aliás cada vez mais sujeita a alguma explosão de revolta social –, a retoma da economia e do emprego só acontecerá quando a envolvente externa assim o permitir, não estando nas mãos dos portugueses obter esse resultado. É claro que, conforme o sentido das reformas e reestruturações entretanto operadas, assim será melhor ou pior aproveitada essa conjuntura.
O resto, as supostas alternativas e as acusações mútuas lançadas na cena política com que a comunicação social nos enche diariamente a cabeça, não passam de “conversa fiada”, que devemos ser capazes de desmontar.
JF / 13.Set.2012
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