Manuel Ribeiro (1878-1941), natural de Albernoa, freguesia de Beja, foi um dos mais destacados militantes anarco-sindicalistas da primeira República. Com pouco mais de vinte anos veio para Lisboa, dedicando-se à tradução e ao jornalismo. É também o momento em que inicia uma obra literária, que anos mais tarde dele fará um dos mais lidos escritores do tempo. Como tradutor, verteu para o português obras de Gorki, Tolstoi, Kropotkine e Paul Elzbacher. A ligação militante ao anarquismo operário data de 1908, mas a primeira colaboração com a imprensa libertária é de 1909. Entre 1912 e 1914 é um dos mais assíduos colaboradores do semanário O Sindicalista, órgão da corrente operária libertária. Com o fim deste e a fundação de A Batalha, Manuel Ribeiro transfere para este diário a sua colaboração, que mantém até Março de 1921.
A revolução russa de 1917 dividiu o movimento operário mundial e Manuel Ribeiro, vendo nos sovietes um equivalente do sindicalismo revolucionário, toma partido pelo bolchevismo, fundando com outros a Federação Maximalista, cujo jornal dirigiu, e o Partido Comunista Português. Mais tarde, em 1926, converteu-se (em privado) ao catolicismo. A conversão não levou porém o autor a alhear-se das antigas preocupações, acabando por se manter dentro da mesma esfera, com a aproximação a sectores católicos socialmente empenhados. Dirigiu nesses anos a revista católica Renascença, fundou uma outra, Era Nova, esta com o padre Joaquim Alves Correia, e publicou um livro de ensaios, Novos Horizontes (1930), em que esclarece a sua separação da fórmula integralista, que por então dominava nos meios católicos.
Talvez por isso Alexandre Vieira, o principal redactor de A Greve, d’O Sindicalista e d’A Batalha, não tivesse dúvida em citá-lo muitos anos depois no pórtico de abertura de Figuras Gradas do Movimento Social Português (1959, p. XI) como um dos que prestaram excelente cooperação ao Movimento Sindicalista, ao lado de Aurélio Quintanilha, César Porto, Sobral de Campos, Pinto Quartim, Jaime Brasil, Julião Quintinha, Artur Portela e Cristiano de Carvalho, todos sem biografia constituída nesse livro repositório do primeiro sindicalismo português.
O legado de Manuel Ribeiro, pelo trajecto variadamente complexo do autor, não é um legado fácil. Ainda assim não nos parece justo avaliá-lo na esfera da apostasia, ou da oportunidade de ocasião, pois as inquietações religiosas do autor, aliadas a um interesse erudito pela arquitectura do sagrado, eram por ele assumidas publicamente desde 1916. E o seu primeiro romance, A Catedral, em cuja medula palpita toda a questão da sua posterior conversão, é de 1920, ano em que publica a compilação das crónicas n’O Sindicalista e n’A Batalha, em que se empenha na consolidação do Bandeira Vermelha, órgão da Federação Maximalista, e em que projecta a criação do Partido Comunista, além de ser aquele em que passou três meses no Limoeiro na sequência duma greve dos Caminhos-de Ferro.
Sobre esta figura tão complexa como hoje desconhecida, Gabriel Rui Silva fez uma longa investigação de anos pelos arquivos e bibliotecas de que resultou em 2009 uma dissertação de doutoramento apresentada com sucesso à Universidade Aberta. Essa dissertação académica foi agora dada à estampa em livro, Manuel Ribeiro, o Romance da Fé (2010, ed. Licorne, pp. 304; ver editoralicorne.blogspot.com). Dela fez ainda o autor uma curta sinopse, em poucas páginas, que acabou de dar à estampa no último número da revista A Ideia (nº 69, Abril, 2011).
António Cândido Franco / 16 de Maio de 2011
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