Bin Laden foi finalmente eliminado numa operação militar das forças especiais dos Estados Unidos em território paquistanês e o radicalismo político islâmico sofreu um golpe simbólico importante, como se pôde observar pela ausência de contestação da “rua árabe”.
Jorge Almeida Fernandes (no Público de 4 de Maio) e outros comentadores têm razão em acentuar que as revoltas populares dos últimos meses que têm agitado as capitais de vários países árabes constituiram uma superação psicológica do ‘jihadismo’ e das campanhas bombistas, orientando as expectativas de largas camadas da juventude e das classes médias urbanas para a contestação dos líderes políticos dos seus próprios países. Estas novas exigências das “praças árabes” apresentam carácter democrático e libertador, em relação a regimes autoritários, muitas vezes corruptos e que se eternizaram no tempo sem atender às mudanças sócio-culturais que iam varrendo o planeta nesta época de globalização que, como sempre, trouxe coisas positivas e outras negativas mas parece ser irreversível (salvo algum fenómeno catastrófico). Talvez que, com a retirada dos soldados ocidentais do Iraque e do Afeganistão, o terrorismo bombista tenha tendência a desaparecer nestes países e não se transfira para os outros.
Também é significativo que aquelas novas expressões políticas não exibam o consabido leit-motiv anti-americano e anti-judaico – o que não significa, porém, que a questão nacional israelo-palestiniana não tenha deixado de ser central nas relações entre os países islâmicos e o Ocidente, nem que os EUA não continuem a ser os mal-amados de todas as massas empobrecidas e fanatizadas, com uma imagem que se cristalizou após a 2ª guerra mundial.
Depois da Tunísia e do Egipto – e enquanto na Líbia se arrasta uma luta sangrenta sem fim à vista e no Iémen o regime treme mas ainda não caiu – tem sido agora na Síria que a repressão anti-popular se mostra mais violenta. Sendo muito problemática qualquer intervenção militar nestas situações, não se percebe, porém, que a Europa ou os países Ocidentais não tenham já condenado de maneira mais ríspida os desmandos do sr. Assad. Não há já motivos suficientes para que o seu governo seja acusado perante o Tribunal Penal Internacional ou todos os países livres lhe decretem um bloqueio económico e diplomático?
E esperemos para ver como irá evoluir a situação em países como Marrocos, a Argélia ou a própria Turquia. Apesar da especificidade de cada uma delas, não seria hoje uma surpreza (interessante) se também aí eclodissem movimentos do mesmo tipo. Já a Arábia Saudita e os micro-estados do Golfo Pérsico constituem uma realidade muito diferente: riquíssimos mas com escassas populações nativas, a sua mão-de-obra é constituída maioritariamente por emigrantes do Índico, insusceptíveis de alavancar qualquer reivindicação política de massas. Resta o Irão, que se perfila como a grande potência regional (com intervenção indirecta mas significativa na Palestina), e o Paquistão, que deve merecer a maior atenção, dados os seus recursos e instabilidade, como agora se viu de novo com a caça a Bin Laden.
Mas, em todo o caso e apesar das novas ameaças, deve ser visto como esperançoso o movimento que está animando o arco sul do Mediterrâneo.
JF / 8.Mai.2011
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