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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Os comunistas

“Nada se pode fazer sem os comunistas. Mas também nada se pode fazer com eles”. Esta conhecida fórmula traduz bem a impossibilidade do dilema que desde há muito bloqueou os caminhos da área da esquerda política.
Marx terá alguma responsabilidade nisto, pelo estatuto científico que pretendeu atribuir à sua visão da economia capitalista do seu tempo. Mas Lénine é que foi o verdadeiro inventor dessa cultura que ainda hoje impregna os adeptos da foice-e-martelo, e que pode talvez resumir-se nestes cinco pontos: 1º, no mundo, só se vence pela força e pelo ardil; 2º, o poder estatal, com todas as suas alavancas, é o objectivo fundamental da acção política; 3º, o partido da ‘nossa causa’ deve funcionar com a disciplina de uma máquina militar; 4º, nenhum escrúpulo ou preocupação ética deve perturbar a decisão fria e implacável tomada pelos dirigentes e responsáveis; 5º, o discurso público tem de ser sempre pronunciado em nome e a favor de uma ampla entidade colectiva efectivamente prejudicada por outras, podendo ser “a classe operária”, “o povo”, “as nações oprimidas pelo imperialismo” ou agora “os jovens”.
Deste modo, independentemente dos processos trituradores de toda a oposição interna, os comunistas tornaram-se mestres na arte política da “flexibilidade táctica”.
É verdade que os comunistas portugueses foram dos mais perseguidos pelo regime de Salazar mas, hoje, pode até compreender-se que, em certa medida, eles fossem vistos como “agentes de um país hostil”.
É também certo que a URSS sofreu como nenhum outro país a bestialidade da invasão nazi. Mas não fosse a loucura de Hitler em querer ganhar duas guerras ao mesmo tempo e talvez o pacto germano-soviético tivesse sido muito mais duradouro e os comunistas se não vangloriassem hoje de terem sido os heróis da luta anti-fascista.
De igual modo se pode entender o sucesso do capitalismo-de-estado chinês actual: desde que o PC não perca o monopólio do poder político, tudo é bom para fazer crescer a força económica do gigante asiático no mundo: exploração do trabalho, desigualdades sociais, espionagem industrial ou devastação ambiental.
A queda fragorosa do “bloco de Leste” na Europa há duas décadas deveria ter feito reflectir profundamente os simpatizantes destas ideias. Largas massas se desencorajaram ou foram “lutar” para outras bandas. Mas importantes minorias de pessoas bem-intencionadas continuaram a acreditar nelas (como é o caso em Portugal). Quem não tem desculpa são os chefes e os ideólogos; e pouca, têm-na os “militantes do colectivo” que fazem funcionar “a máquina” e dela tiram a sua razão-de-vida. Até que a vida biológica faça o seu “trabalho”.
JF / 20.Jul.2012

1 comentário:

  1. Excelente e lúcido texto. A mneu ver o único inimigo do capitalismo é o próprio capitalismo.
    Dieter Dellinger

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