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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sociólogos distinguidos

A sociologia é uma ciência relativamente nova e que, também por isso, ainda vê pouco reconhecida a sua utilidade social. Além de que o seu discurso soa por vezes hermético e abstracto, qualquer um se permite ‘dizer coisas’ sobre o funcionamento das sociedades com ar definitivo e, ainda, os próprios sociólogos dêem por vezes péssimos exemplos públicos ao misturarem as suas próprias crenças pessoais com os resultados de uma investigação e teorização científicas que têm procedimentos e modos de pensar próprios e elaborados. Por virtude de tais confusões (e pela natureza do regime político anterior), a sociologia só pôde instituir-se em Portugal depois de 1974. Desde então um punhado de nomes têm marcado o desenvolvimento da disciplina, que regista alguns aspectos notáveis como sejam o número e a qualidade de jovens profissionais e investigadores já formados nas universidades portuguesas, que em nada são inferiores aos seus colegas estrangeiros. Vários desses nomes têm sido alvo de distinções honoríficas merecidas. É o caso de Boaventura de Sousa Santos, o mais conhecido de todos, também com boa projecção internacional, que criou em Coimbra um forte conjunto de praticantes da chamada sociologia crítica (também com algum empenhamento político), que foi o primeiro a ser galardoado pelo Presidente da República com a Ordem Militar de Santiago da Espada (apesar do nome, destinada a premiar obras científicas, literárias e artísticas). O mesmo ocorreu com João Ferreira de Almeida, durante vários anos a figura de proa dos sociólogos do ISCTE (hoje Instituto Universitário de Lisboa). Manuel Villaverde Cabral impôs-se sozinho no seio de um competitivo Instituto de Ciências Sociais (criado por Adérito Sedas Nunes, o verdadeiro introdutor da sociologia no país), inovando em muitos domínios e, por isso mesmo, abandonando a tentação de criar “escola”, mas sendo-lhe reconhecido o mérito de cidadão através da concessão da Ordem da Liberdade. Manuel Braga da Cruz sacrificou muito da sua carreira de investigador ao dirigir por longo tempo a Universidade Católica Portuguesa, o que também constitui uma forma evidente de reconhecimento das suas competências académicas. António Barreto tem sido outro “mestre sem alunos” que, não obstante, assinou algumas importantes iniciativas de difusão e divulgação de informação sociológica relevante, seja na área dos dados quantitativos, seja em séries televisivas de grande impacto, tendo visto o seu empenho de cidadão reconhecido de diversos modos pelos órgãos políticos nacionais. Hermínio Martins é completamente desconhecido do grande público, o que se justifica por se tratar de um típico “estrangeirado”, cuja vida académica foi passada em Inglaterra na sua maior parte, mas que também já viu os seus méritos galardoados entre nós com a atribuição de uma mercê honorífica. José Madureira Pinto é ainda um outsider mas, para muitos, o mais profundo, rigoroso e modesto desta plêiade, ainda assim não esquecido por Belém, que o condecorou com a Ordem do Infante D. Henrique. Ainda mais discreto é o seu conterrâneo António Teixeira Fernandes, pessoalmente ligado à Igreja Católica mas, sobretudo, conhecido como o criador da escola de sociologia da Universidade do Porto, cujo reconhecimento público ainda não lhe foi dado dessa forma. Finalmente, evocamos o nome de Alfredo Margarido, uma personalidade eclética há pouco desaparecida, avesso às formalidades académicas – e portanto também às suas distinções honoríficas – e que a Biblioteca Nacional acaba de homenagear com uma exposição, apodando-o de “pensador livre e crítico”. JF / 15.Jun.2012

1 comentário:

  1. Olá!
    Não sei como foi construído o texto, mas fica aqui a minha primeira impressão pela crítica construtiva.
    Uma ressalva: Talvez numa próxima publicação façam as sociólogas distinguidas.
    Se estamos a falar no conjunto dos sociólogos (no geral, portanto) acho que o texto é de tendência androcentrica, o que é de lamentar quando nós temos uma Anália Torres (ESA), uma Ana Nunes de Almeida, uma Filomena Mónica, entre tantas outras.
    Fica aqui o meu reparo,
    João Monteiro de Matos

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