É absolutamente dramática a situação que vivem os trinta e tal mineiros no Chile, encurralados a 700 metros de profundidade e que terão ainda de esperar longas semanas até um possível salvamento.
Como em outros trabalhos de elevadíssimo risco físico, tudo deve ser feito para reduzir ao mínimo a possibilidade de ocorrência de acidentes destes. É essa uma preocupação maior dos dirigentes e responsáveis de tais empreendimentos? Será essa uma orientação decisiva que guia as autoridades oficiais que licenciam e fiscalizam estas actividades? E não haverá maneira de substituir estas acções humanas por robôs mecânicos tele-comandados?
Durante dois dias Maputo foi de novo palco de uma “revolta da fome”, que também se estendeu à cidade da Beira. As autoridades governamentais de Moçambique terão dito às suas forças de segurança para “repor a ordem” e estas actuaram da única maneira como provavelmente o sabem fazer: varrendo as multidões das ruas com balas e deixando uma dezena de mortos e muitos mais feridos no terreno, pelo menos.
Pode ser que haja também maquinações políticas, agitação de antigos militares com os bolsos vazios dos meticais que lhes teriam prometido ou formas modernas de mobilização através de telemóveis e das redes de contacto horizontais que estas possibilitam.
Mas o que é certo é que estas populações proletarizadas dos subúrbios vivem em condições económicas de grande escassez ao mesmo tempo que, a dois passos delas, se exibem os “grandes da terra”, nacionais e estrangeiros, dourando ao sol nas praias do Xai-Xai ou do Bilene ou bebendo wisky na esplanado do Polana. E a um passo, ao alcance do botão da televisão, elas “vêem” a riqueza e a ostentação das nossas sociedades ocidentais. Não é isto, por vezes, insuportável?
Finalmente, em Lisboa, um tribunal criminal de 1ª instância condenou seis dos acusados no caso de pedofilia da Casa Pia, entre os quais os senhores Cruz, Ritto, Dinis, Abrantes e Silvino, este o mais desgraçado de toda esta história, porque vítima dos mesmos abusos desde criança na instituição, incluindo por parte de um padre-capelão.
Fala-se nos jornais de outros nomes (sobretudo de Pedroso), cuja inserção no mundo da política lhes teria valido o facto de se não sentarem também no banco dos réus.
Nunca se saberá ao certo o que de facto se passou. A Justiça portuguesa – tão abalada no seu prestígio, independência e eficácia – sai um pouco com imagem melhorada deste processo. Seria contudo trágico se se viesse a espalhar a convicção de que estes réus teriam razão quanto aos erros judiciários que reclamam ou que, por meros argumentos processuais, acabassem por ficar impunes dos crimes que terão cometido.
JF / 5.Set.2010
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domingo, 5 de setembro de 2010
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