Contribuidores

sábado, 19 de junho de 2010

Desapareceu o Anjo Vermelho

Aos 87 anos, José Saramago fechou os olhos, parece que serenamente. Com ele, desaparece um enorme escritor e uma testemunha dos grandes conflitos do nosso tempo, uma figura portuguesa que ganhou dimensão mundial.
Mesmo para quem não apreciava a sua escrita desregrada e acha que ela contribuiu para o desaprender do texto das novas gerações, mas reconhece a sua fantástica capacidade inventiva e de construção romanesca.
Mesmo para quem se situa nos antípodas das suas convicções políticas, mas não deixou de notar algumas suas rebeldias pontuais contra a ordem autoritária e dogmática a que aderiu.
Mesmo para quem vê a Pilar del Rio como uma criatura talvez fanática mas que, 28 anos mais nova do que Saramago, soube construir com ele uma vida amorosa, descobrindo a sua paz de Lanzarote e respeitando-o como era.
Mesmo para quem, olhando ontem à noite na TV as suas imagens, lhe descobre facilmente o pequeno sorriso triunfante – sobre os outros, sobre os adversário e o mundo, e sobretudo sobre os ricos e poderosos – no cenário das vénias e dos dourados de Estocolmo.
Mesmo para quem bem lhe entende a permanente lembrança dos seus anos pobres da Azinhaga e da Lisboa de meio-do-século e os traços auto-biográficos que deixou espalhados em memórias, palavras registadas e histórias efabuladas, mas desconfia do sentido da sua revolta social.
Mesmo para quem, e são muitos, lhe aponta a religiosidade simétrica que o opõe ao Deus dos católicos e desse jogo tende a distanciar-se.
De todos sai o reconhecimento e o respeito conquistado por esse humilde e inteligente trabalhador, do cérebro que procura e cintila, e da mão que labuta e tecla as palavras adequadas.
JF / 19.Jun.2010

4 comentários:

  1. Por mim, nem "anjo" e muito menos "diabo". Não vou na alegoria Saramago.

    ResponderEliminar
  2. Foi José Saramago um notório anti-semita como o afirma este site ?

    http://fullcomment.nationalpost.com/2010/06/19/david-frum-death-of-a-jew-hater/

    Claude Moreira
    Londres

    ResponderEliminar
  3. Nunca nutri especial simpatia pelo JS até por causa daquela noite no Díario de Notícias.
    Da sua escrita "só" li "O ano de 1993", até por razões profissionais.
    No entanto, leio de vez em quando, o seu discurso quando recebeu o Prémio Nobel que, curiosamente "me mostra outra pessoa", e a mim me faz lembrar o que somos. Recomendo!
    Enfim, já lá está.

    ResponderEliminar
  4. no estrolabio:Amanhã, dia 1 de Julho daremos início à publicação de uma série de textos do grande revolucionário russo, Michael Bakunine, o principal teórico do anarco-sindicalismo. Cartas de Bakunine, com comentários e notas do Professor Raúl Iturra.

    ResponderEliminar

Arquivo do blogue