É muito forte (ainda) em Portugal a reprodução das
posições sociais de relevância – em termos de riqueza, capacidade de influência
ou visibilidade pública – dentro das mesmas linhagens familiares, redes de
amizade ou compadrio, ou ainda (fenómeno mais recente) dentro das mesmas
formações partidárias e/ou organizações “secretas” da sociedade civil.
Trata-se, em todos os casos, de uma certa apropriação privada de poder social.
Isto não deve confundir-se com a reprodução familiar
e endogâmica de profissões de elevado estatuto social, como são ainda os
médicos, os diplomatas, os juízes e mesmo os advogados, ou como já foram os
engenheiros e os militares, porque aqui o fenómeno em causa é sobretudo o da
persistente estratificação que dificulta a mobilidade social.
Dois exemplos: os descendentes dos restos da
aristocracia portuguesa estão praticamente todos convertidos ao negócio.
Beneficiando por vezes de bens de raiz herdados, sejam propriedades rústicas ou
urbanas, convertem-nas em empresas para dar lucro (arrendamentos, explorações
turísticas, etc.) ou vendem-nas no mercado em boas oportunidades que a conjuntura
ou a evolução lhes oferece. Além do esmero da educação familiar, foi-lhes
permitido naturalmente efectuar estudos avançados, geralmente com boas
classificações (aproveitando adequadamente a superior bagagem cultural
herdada). E com a ajuda das redes extensas de conhecimentos inter-pessoais no
seio das elites, souberem identificar que o tempo da mera exploração rendeira
das propriedades fundiárias havia passado, tomando então decididamente o
partido do risco, da iniciativa no campo da economia e do domínio indispensável
dos novos instrumentos técnicos de comunicação, pesquisa e gestão –, às vezes
mesmo inserindo-se em equipas internacionais de ciência, ou em estruturas de
cultura ou espectáculo-lazer de elevado padrão embora de sucesso aleatório. É
por isso que encontramos com frequência apelidos “sonantes” da velha sociedade
portuguesa no topo de uma grande empresa multinacional, como curadores
reconhecidos nos mercados-da-arte ou a pilotar pessoalmente um caríssimo
veículo em competição mundial.
Os trisavós aristocratas ou muito ricos limitavam-se
a velar pelas propriedades já herdadas e se possível a acrescentá-las com os
bons casamentos da descendência. Os actuais herdeiros são activos
empreendedores que não hesitam em correr os riscos do mercado, com vista à
criação de valor e tentando não perder as novas oportunidades que a economia oferece.
Nestes termos, apesar da indiscutível ascensão – por
via da escola – de inúmeros “filhos do povo” aos cargos mais cobiçados e bem
remunerados nos diversos sectores da sociedade (nas empresas, no espectáculo,
na investigação científica, na política, etc.), também é verdade que raros são
os descendentes das “classes altas” (aristocracia, grande burguesia,
latifundiários) que soçobram e decaem na escala social, em termos absolutos e
relativos – distinguindo-se aí muito claramente do que aconteceu com a velha
“classe média” (de funcionários, proprietários e outros “remediados”) e
sobretudo com uma fracção muito significativa da pequena burguesia, sobretudo
no comércio, artesanato e agricultura.
Mas há também um segundo caso exemplificativo,
situado no outro extremo da escala social. Como bem se sabe, a miséria material
verdadeira passa de pais para filhos, tal como os destrambelhamentos
comportamentais. Dantes, era o abuso do álcool, o escorraçamento dos lugares
públicos e os maus-tratos infligidos por polícias e meios carcerais! No nosso
tempo, vieram as drogas, a marginalização social, o fracasso escolar ou o
desemprego prolongado! Sempre, os desajustamentos psíquicos, os traumas
afectivos, a cadeia-de-ocorrências-infelizes ou então vícios como os
jogos-de-azar que destroem vidas e danificam o ambiente social!
Que haja 20 ou 30% da população em situação ou risco
de pobreza, numa sociedade situada no espaço privilegiado que constitui a
Europa, é, certamente, um muito mau score
de desempenho social. Mas que esses "pobres” tenham fortes probabilidades
de “transmitir” tal handicap aos seus
filhotes é ainda muito mais injusto.
Uma maior mobilidade social não resolve o problema
estrutural das excessivas desigualdades socioeconómicas, mas atenua os seus
piores efeitos. Nas últimas décadas, isso verificou-se por um conjunto de
circunstâncias e factores favoráveis: desbloqueamentos permitidos pelo
“saltar-do-ferrolho” do 25 de Abril; algum crescimento económico; criação de
uma nova “classe política”; fortes transferências de recursos da “Europa rica”
(CEE e UE); mas também elementos encantatórios como o crédito barato e disponível,
e os aproveitamentos “facilitistas” de uma certa desregulamentação das nossas
burocracias tradicionais, que o salazarismo havia ainda reforçado. Em todo o
caso, não é preciso fazer inquéritos ou grandes estudos para ver como uma parte
substancial das actuais elites nacionais – no Estado, nos negócios, na ciência
e tecnologia, no espectáculo, nas artes, etc. – é hoje oriunda quase
directamente das classes populares do campo ou da cidade: basta reparar nos
apelidos citados na comunicação social.
Escutei há tempos uma conferência pronunciada por
inteligente e competente especialista na matéria anunciada, que se inseria na
esfera da circulação económica, considerada em termos mundiais contemporâneos.
O conferencista debitou durante uma hora inúmeros dados, apoiados em projecções
de gráficos, esquemas, estatísticas e imagens, adequadamente articulados com o
seu discurso, fluente, preciso e sugestivo, com alguns inglesismos à mistura
como agora é inevitável. Toda a audiência (de iniciados na matéria) apreciou
verdadeiramente a sessão e o caloroso aplauso final nada teve de ritual
formalista, antes exprimia a satisfação efectiva com o que tínhamos ali
aprendido.
Porém, a própria continuidade e coerência interna do
discurso – neste caso, relativo às tendências em curso no tocante à
movimentação de mercadorias no espaço-mundo, considerando os seus locais de
produção, transporte e logística, em direcção aos grandes centros de consumo,
mas também atendendo às condições tecnológicas de circulação da informação
implicada por tais fluxos, regras jurídicas mobilizadas e constrangimentos
administrativos irrenunciáveis (fiscais, de segurança, etc.) – dizíamos que foi
a própria qualidade intrínseca do seu discurso que nos suscitou o desafio de
observar (“em cima da onda”) e tentar desmontar e pôr em evidência alguns dos
implícitos ali contidos. Ao “naturalizá-los” no (des)envolvimento de uma lógica
discursiva avassaladora, a sua eventual discussão e crítica pode ter ficado
prejudicada. É isso que pretendemos agora sinalizar, de maneira muito simples
ou mesmo elementar.
Recorrendo exclusivamente à memória oral deixada por
esta audição (naturalmente, muito falível), fixamo-nos apenas em dois ou três pontos
susceptíveis de exploração crítica explicitadora de alguns “não ditos”, o
primeiro dos quais é o recurso frequente (neste tipo de apresentações) ao uso
de termos de linguagem técnica em inglês
(ou melhor, “americano”) sem que, ao menos, uma observação de ressalva seja
feita, ou procurando-se o conceito mais aproximado que lhe equivalesse em
língua portuguesa. Esta “universalização” da terminologia técnica (fixada na
língua inglesa) é um fenómeno comunicacional social desta nossa época,
imparável, e com numerosos efeitos benéficos. Mas não deveria servir para o
empobrecimento e definhamento de cada uma das línguas maternas. Sempre que
possível, a sua tradução seria muito desejável e arriscamos dizer que
constituiria mesmo um “acto de cultura”. No caso vertente, as terminologias
técnicas dos meios de transporte usados, das actividades logísticas e das
operações económico-financeiras referidas têm, todas elas, traduções
linguísticas razoáveis (ou mesmo ricas e importantes, algumas mesmo com
antiguidade) no idioma português. A sua não utilização, a benefício do jargão
anglófono, pode ser vista como o desperdício de uma oportunidade. Por economia
de espaço (e escassez de capacidade memorial), não exemplifico aqui com algumas
palavras este tipo de comportamento humano, hoje tão recorrente em diversas
áreas de especialidade, supondo que todos os leitores terão perfeita
consciência da existência deste fenómeno. Noutros casos, concedo facilmente que
não exista equivalente terminológico na língua de Camões (que não conheceu a
electricidade nem os computadores). Mas, sabendo-se como a língua é uma
codificação significante, viva e sempre em evolução, deveriam talvez aqueles
especialistas fazer o esforço de facilitar a criação de novos “anglicismos”,
ousando experimentar adaptações lógicas do termo original britânico (como
fizemos com “computador”, para computer),
ou mesmo, com aquela criatividade de que dão mostras os publicitários,
encontrando judiciosos termos equivalentes que já existam no nosso idioma.
Imaginemos: “comportamentos auto-obrigados” em vez de comportamentos “aditivos”
para adictive behaviour.
Em segundo lugar e como venho acentuando, observo
que o funcionamento da economia se vem constituindo como o principal meio de
acção (e mesmo de representação simbólica) das sociedades modernas. Longe,
longíssimo, estão os tempos em que, na família, na freguesia, no trabalho, no
estudo ou no lazer, os assuntos que ocupavam a conversação entre as pessoas
saltitavam alegremente entre as dinâmicas das interacções individuais
(descrevendo-as, caracterizando-as, estigmatizando-as, etc.), os comentários
sobre a “ordem política” interna ou externa (de louvor, abespinhamento, temor
ou desprezo), as relações dos humanos com a natureza (a doença, a morte, as
intempéries, a expectativa de novas primaveras, etc.) e os insondáveis
desígnios da vontade divina face aos pequenos imponderáveis do quotidiano, às
iniquidades da distribuição da riqueza e da justiça dos homens ou à salvação
definitiva das nossas almas. Hoje, fala-se de economia para relatar a
concorrência entre estados-nação que antigamente se descreviam em termos de
apetites imperiais ou do direito dos povos a disporem do seu próprio destino,
que lhes era muitas vezes denegado. Fala-se de economia quando se discutem
medidas de política social para socorrer os mais necessitados ou assegurar uma
equitativa oferta na prestação dos cuidados de saúde a uma população. Fala-se
de economia (alocação de recursos, custos e quem os deve suportar, etc.) quando
se põe em causa a lógica de um sistema educativo em relação com a futura
divisão-do-trabalho que ele vai fortemente condicionar. Apenas um exemplo
concreto da actual prevalência da razão económico-financeira sobre outras
considerações de natureza mais social: compreende-se a pressão da CEE para
quebrar o monopólio das antigas companhias ferroviárias nacionais e para estimular
alguma concorrência entre “operadores”, a benefício dos utentes. Por isso se
fez a cisão entre a CP e a Refer (infraestruturas), além de outras. Mas agora
foi esta última fundida com a Estradas de Portugal (constituindo a
Infraestruturas de Portugal) quando se tratava de duas organizações com
culturas-de-empresa inteiramente distintas, e apenas porque a Refer acumulava
prejuízos e dívida, e a segunda arrecadava bons proveitos, obtendo-se assim uma
única entidade com as contas equilibradas face a Bruxelas e aos credores. Nas
políticas governamentais, observa-se algo de parecido: com Passos e Gaspar, a
palavra-de-ordem era “corta!”; agora com Costa e Centeno o guião da comunicação
política é mais elaborado: “anuncia!”; “mostra as diferenças com o passado
recente!”; “festeja!”; “atrasa!”; e “adia!” – tudo por causa do maldito cifrão.
Finalmente, quando se tenta reflectir sobre o devir da humanidade para as
próximas décadas, é ainda e sobretudo em termos de projecções da evolução dos
principais parâmetros socioeconómicos que todos somos levados a raciocinar,
ainda que em tais cenários se possam considerar também factores demográficos,
de aproveitamento da energia e outros recursos-chave, de degradação do meio
natural ou de hipotéticos cenários nas relações internacionais.
Em certa medida, até o discurso ritual-espiritual da
Igreja Católica se deixa corromper por esta envolvente populista, espectacular
e atenta ao lucro financeiro. Pois não é que se houve dizer que, neste ano
jubilar do centenário das aparições de Fátima, terão lugar vários “eventos”
complementares, como serão umas cantorias populares por um qualquer Marco Paulo
ou um congresso internacional de turismo onde não é crível que se trate da
santificação das almas?! Bem pode o Papa Francisco continuar a pregar e dar
bons exemplos, que tem atrás de si uma “máquina” imparável e muitos lóbis e
interesses a atravessarem-se-lhe no caminho! Porém, é interessante ver um
teólogo e hierarca da Igreja como Carlos Azevedo vir reconhecer publicamente
que não houve “aparição” alguma aos três pastorinhos de Fátima, mas apenas
“visões místicas”. Por muito menos se queimaram e perseguiram apóstatas e hereges
no passado.
A linha de pensamento tecnocrático tende a
considerar como contínua e ininterrupta (embora oscilante) a curva do
crescimento económico, embora conheça da teoria como essa linha foi, no
passado, afectada por perturbações de grandezas e sentidos diversos. Crises
económico-financeiras brutais (como a que despovoou a Irlanda em poucas décadas
no século XIX ou assolou o mundo ocidental no pós-Grande Guerra); conflitos
armados de grandes proporções (como a guerra civil norte-americana ou as duas
Guerras Mundiais do século passado); “revoluções culturais” surpreendentes como
foi o Maio de 68; magnos acidentes geológicos (como o terramoto de Lisboa de
1755) ou cósmicos (com o impacto sempre possível de algum meteorito); ou mesmo
flagelos epidémicos incontroláveis (já não temos memória da “peste negra” mas
não ficámos imunes a fenómenos deste tipo, como a “gripe das aves”) – tudo isto
são ameaças possíveis a um mundo que acumulou um stock fantástico de bens materiais e de conhecimentos operativos,
que durante um tempo afivelou uma máscara de optimismo e nonchalance mas que, de repente, se viu agora confrontado com as
suas próprias contradições e por algumas delas ameaçado, a que se somou a
insegurança do terrorismo, a desconfiança no outro e a descrença nas possibilidades de melhoria colectiva. A sociedade de risco foi uma
caracterização feliz do sociólogo alemão Ulrich Beck para os medos, as ameaças
e os movimentos inorgânicos e emocionais dos nossos dias.
Aqui há meses, o livro Eu e os Políticos de José António Saraiva suscitou um êxito
editorial pouco comum e comentários indignados de alguns dos nossos mais
reputados comentadores. É certo que o estilo “lavagem de roupa suja” estava
anunciado e que a qualidade de jornalista – ou melhor, de director de imprensa
escrita – deveria impedir o autor de publicitar frases e atitudes recolhidas off record. Esclareço desde já que não
li o livro e não tenciono fazê-lo, porque julgo nada ter a apreender com tais
revelações. Apenas escutei parte de uma entrevista dada por Saraiva a um canal
de televisão, onde aliás me pareceu pouco convincente e à-vontade a “falar para
as massas”. Também não me custa a crer que a sua personalidade seja altamente
auto-referenciada (se é verdade o que se diz de o homem se considerar um
romancista de enorme craveira…) e, por isso, menos interessante. Mas, enquanto
observador privilegiado da vida política portuguesa dos últimos 40 anos
(sobretudo pelo que assistiu em privado e lhe contaram actores determinantes
desses processos), é possível que daqui por meio-século estas “inconfidências”
possam constituir uns complementos bastante esclarecedores sobre o referido
período da nossa história, o que poderia ajudar ao perdão dos pecadilhos
actuais. Jornalismo ilícito? É provável. Mas talvez o testemunho deixado venha
a justificá-lo. Em todo o caso, eis um profissional da imprensa bem contrastante
com o perfil de um José Manuel Paquete de Oliveira, o “sociólogo afável” que o Público elegeu entre as principais
figuras nacionais que nos deixaram no ano de 2016, ou a escritora-reporter globetrotter deste mesmo jornal chamada
Alexandra Lucas Coelho, de cujas posições políticas e sociais geralmente
discordo mas a quem reconheço uma elegância e desenvoltura de escrita
irrepreensíveis e julgo ser mulher de coragem a toda a prova (ver o seu interessante
“Último texto” no Público de
27.Mar.2017 e o elogio de João Miguel Tavares na edição do dia seguinte do
mesmo jornal). Todos bem diferentes ainda do pivot do telejornal da “2”
João Fernando Ramos que, geralmente discreto, não se coibia contudo de anunciar
a série dinamarquesa Fraude
acrescentando que “tinha muitos pontos de contacto com a nossa realidade”, no
que estava excedendo a sua função: sobre a interpretação e as intencionalidades
da ficção, responde unicamente o público, a crítica e o próprio autor;
dispensa-se a “promoção” do jornalista.
E uma palavra ainda para dois “mestres da
comunicação”. Por coincidência, na mesma edição do jornal Público (de 24.Dez.2016), José Pacheco Pereira e Jorge Almeida Fernandes
assinaram artigos sobre política internacional de grande qualidade e oportunidade.
Se do último já é habitual lermos análises muito bem informadas, prudentes e
que nos fazem reflectir, de JPP há muito que já não suportávamos escutar as
suas palavras, pela “roda-livre” discursiva a que se entrega e pelos “ódios de
estimação” que manifestavam. Desta vez, porém, falando da “Doutrina
Trump-Putin”, Pacheco antecipa com lucidez as prováveis mudanças que aí vêm no
xadrez internacional. Se a isso juntarmos os riscos que se percebem existir no
sistema económico (matéria que ele ignora), há de facto fortes razões para
estarmos preocupados. Quanto ao acutilante texto de JAF (“Nas mãos da Alemanha
e de Angela Merkel”), só me apetece lembrar todos aqueles que, até há dois anos
atrás, invectivavam quotidianamente a chanceler alemã e assestavam as suas
baterias alarmistas sobre o novo “perigo germânico”, apostado em dominar na
Europa para poder impor-se no mundo! Emudeceram? (perante a política “do milhão
de refugiados”, a estabilidade da coligação CDU-SPD, o relativo apagamento do
sr. Schäuble, as dificuldades financeiras da Volkswagen e do Deutsch Banke
ou o atentado natalício de Berlim?)
Apesar das travagens proteccionistas que se ensaiam
actualmente, o mundo não deixará de funcionar como um todo, numa ordem algo
desordenada que nenhum poder verdadeiramente controla. A tecnologia já não
consente grandes recuos. E talvez a vontade dos Homens seja capaz de o
aproveitar para melhor preservar o seu destino.
JF
/ 22.Abr.2017 (dois
dias depois de uma sessão extraordinária, de sonho e vibrações, ocorrida no
auditório B103 do edifício II do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa)
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