Não é o caso de Portugal mas o que vai hoje pela Europa não é um processo insignificante.
Os flamengos querem desligar-se da Bélgica; os catalães ser independentes da Espanha; os escoceses abandonarem o Reino Unido. Eis as dinâmicas independentistas actualmente mais visíveis, potenciadas por votações ou manifestações de rua maciças e em contexto de crise económica, onde estas regiões mais ricas, trabalhadoras ou eficientes já não querem pagar para vizinhos vistos como relaxados e aproveitadores. Noutros casos, como o protagonizado pela Liga do Norte italiana, vemos reproduzir-se o mesmo tipo de atitude dos “ricos” contra os “meridionais” de que se acusa a Alemanha em relação ao grupo de países europeus vergonhosamente designados por “P.I.G.S.”. Mas outros povos culturalmente diferenciados não deixam de ambicionar aos mesmos fins, contestando os Estados onde um dia foram incorporados mais ou menos à força (como os católicos da Irlanda do Norte, os Bascos, os Corsos, etc.).
É claro que o espírito nacionalista-populista insufla também estes movimentos, inserindo-lhes uma componente xenófoba ou mesmo racista e reforçando os partidos políticos de direita. Mas as esquerdas deviam ser capazes de reconhecer os seus erros de gestão política nos governos ou municipalidades e de reexaminar as suas ideias acerca dos custos do “Estado-providência”, das mudanças sociais feitas por decreto e dos limites do cosmopolitismo e dos comportamentos humanos altruístas.
Nenhum modelo de organização é resposta suficiente para questões desta complexidade mas, para conjuntos populacionais muito numerosos, geograficamente extensos e diversificados, o modelo da federação (e o seu princípio da subsidiariedade) parece sempre o mais adequado no mundo moderno, ontem para os Estados-Unidos ou a Rússia, hoje para a Europa. Neste ponto, tudo parece principalmente jogar-se nas orientações políticas que tomem as elites, por um lado, e os eleitores populares, por outro. As primeiras, na medida em que sejam capazes de não sobrepor os seus interesses particulares aos dos povos que pretendem representar (e parece claro que a época de ouro dos Estados-nações foi sobretudo feita pelas respectivas classes dominantes, satisfazendo os seus interesses fundamentais, embora concedendo algum lugar, secundário, às classes populares). Os segundos porque não é hoje pensável no mundo ocidental qualquer outra forma de mudança e de legitimação do poder político que não seja pela via da sua aprovação (eleitoral ou referendária) por uma maioria de cidadãos.
JF / 26.Out.2012
João, se o que está em causa NESSES casos fosse o estado-nação, os povos minoritários não quereriam ter eles próprios o seu estado-nação. O que está em causa é outra coisa....
ResponderEliminarUm abraço
JRdS