Publicou há dias um jornal diário (Público, 21 de Dezembro de 2011, p. 31) duas opiniões fundamentadas e contrastantes sobre novas questões colocadas pela disponibilidade de técnicas de procriação medicamente assistidas.
Os leitores interessados ganharam certamente em ter podido confrontar tais pontos de vista.
Pela minha parte, confirmei que os apóstolos destes “novos direitos” põem o interesse dos “pais” (sob qualquer das formas como se apresentem) à frente do interesse do futuro ser. Se não estou equivocado, isto significa que partem de um princípio egoísta (que, obviamente, também ocorre em inúmeros casos de procriação “normal”) e não de um princípio altruísta – centrado sobre a criança –, o qual tenderá a sublinhar a responsabilidade dos progenitores no seu processo educativo, até que possa subsistir autonomamente.
Em segundo lugar, clarifiquei melhor o meu entendimento acerca do papel da “mãe de aluguer”: já o sabia no plano do “interesse económico” na operação (o aluguer do corpo na prostituição é um paralelo inevitável). Mas fiquei mais atento aos aspectos emocionais e psicológicos que envolverão uma gravidez a benefício de terceiros.
Daqui resultou ficar reforçada em mim a suspeita de estas tendências vanguardistas do nosso mundo contemporâneo estarem intimamente associadas a um hedonismo ilimitado, comandado pelo princípio do prazer e apostado em rebelar-se contra o meio natural de que fazemos parte, mas que desejaríamos fazer dobrar à nossa vontade soberana.
E eu que julgava que o ecologismo difundido nas últimas décadas tinha vindo trazer mais moderação a tais ambições!...
Já depois de escrito o que se leu acima, publicou o mesmo jornal diário um artigo de opinião do psiquiatra Emílio Salgueiro (“O superior interesse das crianças nos processos de separação”, 29.Dez.2011) que aborda os efeitos negativos sobre as crianças das desavenças conjugais. Dado que tal tende a ser menosprezado e revela a coragem do seu autor, certamente bem fundamentada nos seus conhecimentos e experiência clínica, recomendo vivamente a sua leitura.
JF / 13.Jan.2011
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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
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Olá,
ResponderEliminartambém li o mesmo artigo e em parte concordo com as questões que levanta sobre os limites da ação humana e o edonismo que nos move, enquanto sociedade. Contudo penso que esta questão se enquadra no cenário mais vasto do desenvolvimento cientifico, mais concretamente da medicina, estando próxima de debates como os da clonagem. Até que ponto ao evoluirmos e aumentarmos a nossa capacidade de actuar sobre a natureza, estamos a perverter o equilibrio das coisas?
Um aspecto paralelo mas que quando a mim é importante: sendo a reprodução medicamente assistida já uma realidade quotidiana em Portugal com várias familias a terem procriado graças a tratamentos, a mais das vezes longos, dolorosos e dispendiosos, porque razão é esta opção reservada a casais? Sobretudo quando a adopção é em Portugal aberta a candidaturas individuais. Onde está a coerência?