Tal como outros que deixaram marca na História, o ano de
2017 pode ter representado o início de uma viragem significativa na relação do
Ocidente com o resto do mundo e no seu próprio modo de viver, a que nos
habituámos nas últimas décadas.
Numa União Europeia desunida, bloqueada e incapaz de
resolver os problemas económico-financeiros que a afligem, o resultado do
referendo do “Brexit” foi o sinal de
alerta de que algo de fundamental iria mudar nas instituições estatais (não
excluindo até a independência democrática da Escócia ou da Catalunha) e nas
suas relações com a Rússia e a Turquia. Do que não há dúvidas é que os
nacionalismos renasceram na Europa e se está apagando a chama congregadora e
federalista que tantas esperanças despertou depois das hecatombres guerreiras
de século XX.
O segundo choque foi, como é sabido, a eleição do milionário
Trump para presidente dos Estados Unidos. O seu discurso “fácil e popular” foi
suficiente para vencer nas urnas os aparelhos partidários tradicionais, os mass media e a opinião pública mundial
mais esclarecida e ilustrada. As suas suspeitas ligações com o autoritário
Putin, que domina “à moda antiga” um país-continente e possui o segundo maior
arsenal nuclear do mundo, são de molde a deixar inquietos os mais independentes
dos observadores e também outros países de mão-de-obra barata que concorrenciam
alguma da indústria transformadora norte-americana. E, noutro sentido, veremos
até onde irá a retórica anti-chinesa e as medidas que poderá tomar contra o
provocador líder norte-coreano. Em todo o caso, trata-se de uma personagem
aberrante para as funções que lhe foram atribuídas e da qual se pode esperar
sempre o pior, em especial quando ele termina as suas fases espetando o dedo e
dizendo convicto “Believe me!”.
O reaccionarismo anti-posmoderno do “homem da melena
amarela” é ainda coisa de somenos importância, em comparação com os disparates
internacionais que podem provir da Casa Branca, mas há atitudes imperdoáveis,
ao lado de outras mais entendíveis. Não falo agora da sua xenofobia estrutural,
a que uma parte do povo americano já está a dar, nas ruas e nas instituições, a
merecida resposta. Refiro-me antes à travagem que o Sr. Trump tenta impor face aos
excessos “vanguardistas comportamentais” em que as esquerdas do Ocidente têm
sido pródigas nos últimos 30 anos. Depois da justa luta pela igualdade posível
entre homens e mulheres, pela liberdade de crença e os direitos humanos
essenciais, a esquerda ficou sem causas a partir do momento em que o operariado
se “aburguesou” e uma larga e diversificada “classe média” passou a ter papel
decisivo nos pleitos eleitorais. Daí a “necessidade” de inventar “novas causas”
– cada qual mais ousada do que a anterior – mesmo que a miséria material ainda continuasse
a grassar na maior parte do planeta!
As derivas direitistas de muitos governos democráticos
têm este como um dos seus principais factores explicativos. Sempre pensei que
tal afã vanguardista (a partir do exercício do poder) viesse a suscitar um
movimento retrógrado por parte das grandes massas asiáticas, africanas e
sul-americanas, para quem as imagens
das nossas riquezas não compensam completamente a integralidade dos seus
antigos modos de vida, apesar de paupérrimos. Mas não imaginava que tal fissura
viesse a acorrer no interior dos nossos próprios países de cultura ocidental. É
claro que, com as ameaças terroristas e as migrações maciças de refugiados e
outros migrantes desgraçados, não faltam ideólogos e militantes xenófobos
ávidos de lançar gasolina na fogueira. Na Europa ocidental, não o esqueçamos,
residem (números redondos) 5 milhões de muçulmanos na Alemanha (turcos na sua
maioria), 7 milhões em França e largas centenas de milhar na Áustria, Bélgica,
Reino Unido ou Holanda, muitos deles com dupla nacionaldade. No conjunto da Europa, são milhões os cidadãos que professam uma
religião islâmica, o que poderia ser uma excelente aquisição civilizacional se
não fosse o actual clima de confronto e intolerância, que não parece deixar de
ganhar sempre novos adeptos.
Os resultados dos diversos processos eleitorais de
2017 não touxeram grandes novidades, com a prevista dinâmica populista de
direita, talvez menos catastrófica do que se temia mas acentuando os efeitos
sobre as políticas nacionalistas de grande parte dos países (sobretudo a leste)
e a já há muito pressentida decadência da unidade europeia, sempre ameaçada por
uma falência italiana e pelos riscos cisionistas em Espanha, nas ilhas
britânicas e em outros lugares, sendo difícil antever de que forma o projecto
de relançamento europeu do sr. Juncker poderia alcançar algum sucesso. Falta
saber o que conseguirá realizar o presidente francês Macron, com um programa
moderado mas arrojado e contundente em certos aspectos, com a urgência com que
tem de ser aplicado. E na Alemanha, cuja trágica história recente ainda pesará
na consciência dos seus cidadãos, a
vitória da Srª Merkel e correspondente derrota do SPD mostrou o acerto da
política de equilíbrio e sensatez da chanceler nos últimos anos, da sua
inteligente aceitação dos refugiados do Próximo-Oriente, mais a sua demarcação
do Brexit, da Turquia e do Sr. Trump,
ficando agora a interrogação sobre que governo conseguirá formar e acerca da orientação
financeira que poderá ser seguida, após tantos anos sob a direcção do irascível
Sr. Schäuble e a tensão sempre existente com o Banco Central Europeu. Veremos
também como avançará a tão esperada reforma financeira da UE, com o sorriso
nervoso de Centeno à cabeça do “eurogrupo” e a renovação do tendem franco-alemão. Porque da Itália,
com novas eleições em breve, não é difícil prever o prolongamento da sua quase-ingovernabilidade,
dados os partidos e as regras existentes.
No Médio-Oriente, extinguido o domínio terrotorial do Daesh, fixada a presença russa e
prolongada a indeterminação sobre o futuro dos Curdos – acendem-se agora
rivalidades político-religiosas entre estados soberanos até aqui menos
evidentes. Sem menosprezar o peso do Egipto e da Turquia (e da Argélia na
região do Magrebe e da África Ocidental), é certo que a Arábia Saudita e o Irão
– apesar da aparente unidade na condenação de Israel, numa Palestina de novo em
Intifada – são as duas potências
regionais com maior influência financeira e ideológica que vêm agora mostrando
interesses conflituantes entre si, hesitando o Ocidente sobre qual delas
preferir ou esperando o seu desgaste mútuo para depois colher algum benefício.
Um pouco a mesma postura é a da Rússia para uma região onde conseguiu meter uma
cunha muito forte na Síria, numa altura em que se prepara para renovar o
mandato autoritário de Putin, sempre com as rédeas do poder em mãos desde que entrámos
no século XXI. Mas o radicalismo político islamita não acabou: além da
Al-Kaeda, dos Taliban, do “Estado Islâmico”, do Al-Shabab, do Boko Haram, do
Jamaa Islamiah, do Hezbolah, etc., há o Hamas e outros extremistas
palestinianos. E é tão fácil explorar as fraquezas do Ocidente…
Da África negra vieram nos últimos tempos notícias
algo surpreendentes, a quebrar o marasmo dos fumos de corrupção e abusos de
poder de que sempre se ouve falar em Moçambique ou na África do Sul, para não
citar outros casos muito mais graves. A sucessão e o desempenho inicial do novo
presidente João Lourenço em Angola são uma novidade que levanta algumas
expectativas, apesar das relações destas grandes ex-colónias com a antiga
potência colonizadora (hoje pequena e in-potente) serem sempre delicadas, como
também acontece com o Brasil. Mas sobretudo os episódios de fim-de-“mandato” de
Mugabe no Zimbabuè abrem maiores interrogações sobre qual o encaminhamento
futuro dessa antiga colónia inglesa, outrora economicamente próspera sob o
punho da minoria branca (a certa altura capitaneada pelo “rebelde” Ian Smith) e
onde a libertação pelos guerrilheiros independentistas, em vez de progresso e
igualdade, abriu uma outra senda de violências e descalabros.
Em outros países das periferias mundiais encontramos
perturbantes situações de descalabro social onde, além das antigas misérias, se
acumulam negócios e corrupção, e tiques ou ensaios de novos exercícios
ditatoriais, vide a Venezuela (“bolivariana”), o Perú (ex-“chino”), a Bolívia
(índia), a Argentina (pampera) e o Brasil (da Odebrecht) na América Latina, ou
as Filipinas no Sueste Asiático – curiosamente, todos países de anterior
colonização ibero-católica – contrastando com o toque britânio deixado na Índia,
no Ceilão, Singapura ou Hong-Kong.
Finalmente, o resultado eleitoral na Catalunha do dia 21
p.p., com uma vitória dos partidos independentistas, frustrou a “jogada
política” do Sr. Rajoy e voltou a pôr as coisas no ponto em que estavam antes
do atribiliário referendo de 1 de Outubro. Com a diferença, perante o impasse,
de se ter talvez aberto um espaço negocial entre Barcelona e Madrid (que leve à
tão falada quanto difícil Constituição Federal), ainda que eventualmente à
custa da queda do actual governo e do recurso a umas novas eleções gerais, de
prognóstico completamente reservado. De uma coisa parece não haver dúvidas: ficam
à vista as limitações implícitas neste modo de organização do poder político
nacional e o desgaste dos mecanismos legais-institucionais que pode ter, a
prazo, consequências insondáveis, apesar do apego da maioria aos métodos de
consulta pacífica do parecer das populações.
Quanto a Portugal, debaixo do olhar atento do condestável do regime e provedor do povo que assenta em Belém, e
sobre a base do boom turístico, com
juros em baixa e notações em alta, um crescimento económico surpreendente, um
futebol-rei em que ninguém ousa tocar e uma oposição desnorteada, a aliança
PS-PCP-BE ultrapassou a prova das eleições autárquicas, conseguiu a aprovação
do seu terceiro orçamento e prepara-se para tentar cumprir a legislatura, coisa
em que ninguém acreditava à partida. Mas o primeiro-ministro perdeu o sorriso e
a sobranceria após o desastre incendiário de Pedrógão (a sua repetição em
Outubro e, também, os “casos” que se sucederam) e está a transformar o estilo
da sua governação. Em direcção a quê? A uma legislatura de maioria absoluta? A
conseguir a impensável união das esquerdas? A satisfazer a ambição dos seus, garantindo
um poder interno para poder bater-se na Europa? A lograr instalar
definitivamente o país na pós-modernidade? (com o que de bom, de mau e, para
nós, inevitável, isso significa.) Ou à espera de uma saída airosa para a alhada
em que se (nos) meteu? E se o “populismo” de Santana Lopes levar a melhor sobre
o rigorismo de Rui Rio, é de prever que a crispação entre esquerda e direita se
mantenha em Portugal por mais uns anos, sob a ignorância e o desinteresse da
maioria.
Tentemos algum tipo de conclusões:
1ª
– Os grandes partidos democráticos tradicionais que, em boa medida, fizeram o mundo
pós-segunda guerra mundial (sobretudo a social-democracia e a
democracia-cristã), estão todos em acentuada crise; podem ainda reunir o maior
número de votos, mas como “mal menor” e sem projecto mobilizador para o futuro.
O enriquecimento já não satisfaz a classe média tornou-se irrealizável para
todo o povo. No Ocidente, a sua governação parece irrremediavelmente afectada
pelo mais básico pragmatismo, negocismo, intrigas, tacticismo politiqueiro e
até corrupção. A outrora “superioridade ética” a que se arrogava face aos
regimes totalitários e por fazer referência aos mais desprotegidos da
sociedade, quase desapareceu. E algo de parecido se poderia dizer do
bi-partidismo americano.
2ª
– Consequência disto e da chamada “globalização” (que tornou todos os países
mais interdependentes economicamente), surgem agora muitos mais agrupamentos partidários,
cada qual defendendo a sua causa/ideia particular ou distinguindo-se pelas ideossincrasias
das respectivas lideranças. Os governos de base parlamentar vão tornar-se mais
difíceis de constituir e funcionar.
3ª
– A “grande classe média” criada pela riqueza social disponível é muito (e cada
vez mais) heterogénea e dificilmente representável por uma força política
coerente.
4ª
– Os indivíduos (a quem já é arriscado chamar cidadãos) estão agora mais
entregues à sua individualidade, subjectividade e inclinações ideológicas
aleatórias, não estruturadas, na exacta medida em que se alargou imenso o leque
de informações a que têm acessso e que adquiriram a ilusão de poder escolher e
decidir.
5ª
– No âmbito não-convencional (das bandas alternativas do ecologismo, do
“movimento dos “99%”, do anarquismo ou de algum outro novo humanismo), não
surgiu até hoje qualquer força agregadora capaz de galvanizar massas
significativas de pessoas, com uma linha estratégica compreensiva, coerente e
capaz de dar resposta aos problemas sociais, económicos, políticos e culturais
do mundo actual – os quais (não o simplifiquemos!), são complexos.
6º
– O “refúgio identitário” étnico ou religioso, o nacionalismo e a violência
brutal e anónima que anima certas minorias têm sido as respostas encontradas
para esta situação, num mundo que caminha inexoravelmente para uma maior
integração sem ser capaz de conviver com as diferenças culturais profundas que
identificam cada uma das suas comunidades e que, afinal, deveriam constituir a
sua principal riqueza.
7º
– Os chamados populismos estão explorando de diversos modos – uns democráticos,
outros religiosos e outros mesmo agressivamente autoritários, militaristas ou
assassinos – esta desorientação e nova “rebelião das massas”, cujo desenlace só
pode ser a guerra ou outras catástrofes da mesma espécie. A própria “esquerda”
– que em tempos procurava seguir caminhos de liberdade, justiça e progresso –
não se dá conta de que também ela integra hoje esta mesma dinâmica suicidária.
8º
- Num país como Portugal, os fenómenos urbanos (os bons e os maus) estruturam e
condicionam hoje grande parte da nossa vida em sociedade, enquanto o espaço
rural (“os campos”) ainda não encontrou forma de subsistir com a escassa
população que lhe resta. É provável que, numa futura reorganização da
administração pública, passe a haver um departamento “das cidades”, outro “do
território”, outro da “defesa e segurança”, etc., em vez da actual divisão
funcional estanque entre ministérios.
9º
- Finalmente:
-Os
sistemas políticos actuais – ideologias,
partidos, práticas e instituições – estão longe de representarem cabalmente as
grandes clivagens que atravessam as sociedades, sendo urgente a sua renovação.
-Os
movimentos religiosos também estão
sendo questionados por dilemas e inquietações que afectam a sua unidade interna
e a sua credibilidade externa, a saber: a) a mais sustentada crise de religiosidade
que o mundo alguma vez conheceu, afectando especialmente a Igreja Católica; b) os
problemas que o feminismo moderno levanta, quer às suas bases teológicas, quer
à sua ordem disciplinar; c) o perturbante e criminoso fenómeno do abuso sexual
de menores e a tantas vezes hipócrita prática da castidade; d) o uso das
convicções religiosas como arma política ao serviço de espíritos propensos ao
fanatismo (e agora sobretudo usada contra os valores universalistas
ocidentais); etc.
-Por
outro lado, os efeitos da acção humana
sobre os equilíbrios ambientais (indústria, urbanismo, turismo de massas, exploração
de certos recursos ou poluição) é também um tema que divide profundamente as
opiniões, embora seja patente tratar-se de uma quase-certeza.
-As
empresas são outro dos fundamentais
actores do nosso tempo, não apenas porque criam riqueza e sustentam o emprego
da maioria da população, mas também porque alimentam um sistema económico
descentralizado (o tão denegrido “mercado”) e fecharam finalmente o mundo num
só. Isto é bom, com a condição de que seja devidamente regulado, se limite o
leque de distribuição dos rendimentos, se impeçam os fenémenos de cartelização
ou monopólio e se adoptem princípios de um “comércio justo”; mas pode ser
péssimo, quando tal não acontece.
-Finalmente, a
ciência – um dos principais factores de modernização das nossas sociedades
– encontra-se numa encruzilhada complexa entre as fantásticas possibilidades
tecnológicas por ela permitidas, os bons e maus usos práticos que a sociedade
(e os seus dirigentes) delas estão desde já fazendo, e a (infelizmente escassa)
reflexão ética sobre os caminhos que, aos Humanos, serão ou não lícitos
percorrer em tais domínios.
Os enormes desequilíbrios na distribuição da riqueza
produzida entre os países existentes no mundo e no interior da maior parte
deles, não sendo a única, serão a principal causa das correntes migratórias que
afluem à América do Norte e à Europa, e dos campos para as cidades. O Ocidente
investe pouco (e mal) no Sul – é sabido! –, depois de uma exploração secular
que lhe ajudou a construir a predominância de que ainda hoje desfruta. Mas lastimável é também que, salvo honrosas
excepções, os representantes oficiais dessas populações deserdadas da sorte
sejam pessoas de baixa estirpe, que sugam a maior parte dos recursos que
àquelas deveriam ser destinados.
Só uma inversão muito significativa do investimento
produtivo em favor dos países pobres do Sul (onde o custo da mão-de-obra será
sempre mais barato), forçando-o a um re-investimento local dos seus lucros,
poderá travar, a prazo, o apetite desmesurado das massas por este “mundo
ocidental” (mas que inclui as moderníssimas cidades do Golfo Pérsico, por
exemplo) gerando maciças correntes migratórias de que beneficiam toda a sorte
de traficantes e donde provém grande parte das desgraças dos mais frágeis. Além
de socorrerem as situações de urgente necessidade, os países ricos têm de
passar a destinar uma parte substancial dos seus surplus a projectos agrícolas, industriais e de serviços dos países
pobres. Não sei como isso se poderá fazer, num mundo dividido em 200 entidades
soberanas e baseado felizmente (apesar de certos entraves) na liberdade de
circulação das pessoas, ideias, informações, mercadorias e valores monetários –
estes, provavelmente, a terem de vir a ser sujeitos a regras de controlo e
equidade mais apertadas.
Porém, no mundo actual, tudo tem o seu reverso. Apesar
de Trump e da sua equipa de empresários e generais reformados serem
simultaneamente liberais em economia interna e proteccionistas na externa,
chauvinistas para com os onze mihões de estrangeiros ilegais que habitam o território
mas quererem fazer alguma “política social” para o país profundo que os elegeu,
desejarem baixar os impostos mas gastar mais em obras públicas e armamento, etc.
– acreditamos que tudo isto acabará por chegar a um certo ponto de equilíbrio, de modo a não provocar rupturas insuportáveis.
E que tenha finalmente efeitos benéficos sobre a globalização descontrolada a
que temos assistido nos últimos anos. Talvez “os sete” ou “os vinte” venham
ainda a ser ungidos por línguas-de-fogo, não das caídas dos céus (que vêm muitas
vezes sob a forma de trovões) mas oriundas dos anseios mais profundos –
pacíficos e cooperantes – dos povos de que se julgam representantes.
A História deveria ensinar-nos que existem duas espécies
de Política. Uma, com “P grande”, que seria a combinação da arte, ciência,
sensibilidade e sentido histórico da governação, com vista ao bem-comum das
populações, participando e reconhecendo-se estas em tais valores e orientações.
Outra, a política com “p pequeno”, que diz respeito à luta pelo exercício do
poder sobre os povos no âmbito estatal (e às vezes contra terceiros no âmbio
externo), luta dirimida entre cliques rivais, tão capazes de se digladiarem até
à morte como de se aliarem para manterem as suas posições de privilégio, de
empregarem para isso os meios mais vís e violentos ou de seduzirem a plebe com
falsas promessas ou declarações capazes de excitarem os seus mais baixos
instintos. Como governo da cidade, só
a primeira deveria verdadeiramente interessar-nos.
Aqui
encerramos a nossa colaboração cronística regular desde 2008, primeiro no
Blogue “A Ideia Libertária” criado por Claude Moreira em Londres, e em seguida
em www.aideialivre.blogspot.com que nos disponibilizou amplamente o seu espaço durante
nove anos.
Está
em preparação a criação de um novo Site
com intenções análogas. A quem interessar, sugerimos que consultem o endereço
provisório: https://aideiablog.wordpress.com/
Boa continuação!
João
Freire / 28.Dezembro.2017