A descoberta de armamento da E.T.A. numa vivenda do concelho de Óbidos veio comprovar aquilo que se suspeitava desde 2007: a instalação da organização separatista basca em Portugal.
Os analistas dividiram-se entre a condenação geral da organização e a necessidade de adaptar com rapidez e eficácia as forças de segurança portuguesas a casos de violência terrorista, pouco comuns entre nós. Da parte do governo veio a garantia de que a cooperação policial entre Portugal e Espanha se vai estreitar com a criação de corpos policiais mistos.
Tanto os analistas como o governo parecem ter perdido uma excelente ocasião de abordarem o caso basco fora do simplismo habitual. O caso basco é em geral reduzido na imprensa a dois clichés: a E.T.A. (sempre em vias de desaparecer) não passa dum gang sem escrúpulos e o P.N.V., inspirado por Sabino Arana (1865-1903), um partido de ideologia racista e fascizante. O correspondente português em Madrid, Nuno Ribeiro, é um excelente exemplo deste fio redutor.
Mais uma vez, a propósito da casa de Óbidos, a imprensa e os analistas repetiram os estereótipos, esquecendo a complexidade duma situação cultural e social de grande delicadeza. Todos calaram que a organização separatista basca E.T.A. representa cerca de quinze a vinte por cento da sociedade basca (deve ter sido por isso que Baltazar Garçón se preocupou em ilegalizar os partidos que a representavam) e que o P.N.V. é um partido com uma tradição riquíssima, que merece o respeito e até a admiração de todos os que conhecem a sua história, além de ter sido e continuar a ser o partido mais votado do eleitorado basco.
Quanto ao governo português perdeu uma estupenda oportunidade para se afirmar no plano ibérico, mediando um conflito insolúvel, que muito beneficiaria com uma intervenção descomprometida de mediatismos imediatos e de hipocrisias de fachada.
Portugal não se pode tornar numa base logística dum grupo que só através da violência das armas encontra solução para os problemas com que se confronta. É certo que não.
Mas não vemos razão para que Portugal, que ocupa uma posição privilegiada e única na Península, com uma secessão da Espanha no seu historial recente, não possa ter uma palavra mais empenhada e imparcial, menos do agrado de Madrid, na mediação pacífica e negociada deste conflito.
Jerónimo Leal / 20 de Fevereiro de 2010
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domingo, 21 de fevereiro de 2010
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Subscrevo o que se diz sobre o PNV e (o que se não diz) sobre o direito do povo basco à independência. Mas não julgo que aquele partido seja apresentado em Portugal como "um partido de ideologia racista e fascizente", o que costuma ser usado com propósitos de vitimização.
ResponderEliminarSobretudo, distancio-me dos juizos sobre a ETA. É certo que tem apoio numa minoria do povo basco (embora creia que os 15% eleitorais já são números antigos), mas violência usada, em contextos democráticos e de liberdade de expressão, é um indicador iniludível daquilo que os move. Não se lhes deve conceder a mínima justificação.
Se a violência foi a parturiente da história, é altura de a civilizarmos um pouco.
JF/21.Fev.2010
Em relação à ETA a minha posição é a seguinte:1)É pessoal que não desejaria ter como «vizinhos» na porta da minha casa; 2) Quaisquer actos de solidariedade para com esses cavalheiros, - e que em muito derivavam em face do que lhes ia acontecendo no regime do General Franco - deixei de os ter, perante semelhantes comportamentos em plena Democracia; 3)Quando nos indignamos com os «fundamentalismos» dos Talibãs do Oriente, também nos devemos indignar com os Talibãs dos Pirinéus;
ResponderEliminarDevo dizer que mesmo numa Democracia poderá haver uma minoria que se sinta de alguma forma "oprimida", visto que nas Democracias o que conta é sobretudo a vontade da maioria, bem mas como não conheço bem a realidade basca e espanhola não sei se será o caso. Apenas num regime mais aberto, como supostamente seria se fosse libertário, é que as minorias teriam a sua voz plenamente livre e respeitada. De qualquer modo não sou partidário da reacção contra a opressão, através de meios violentos. Isto por princípio. E no caso da ETA parece-me realmente uma reacção desproporcionada contra qualquer opressão de que se possa queixar o povo ou neste caso uma minoria do povo basco.
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