Depois do Afeganistão, o “WikiLeaks” voltou a abalar as opiniões públicas com revelações chocantes que pretendem comprometer os Estados Unidos, desta vez no teatro de guerra do Iraque. É certo que as guerras são um campo de violências máximas: por isso, tudo deve ser feito para as evitar; e nas últimas décadas deram-se passos sensíveis nesse sentido, baixando o volume da conflitualidade “convencional” e evitando-se o holocausto de uma guerra atómica. Porém, outras guerras prosseguiram, mais restritas a “segundas potências”, ou então usando meios “não-convencionais”: a “guerra subversiva” (combinando as velhas tácticas da guerrilha com a doutrinação marxista e a pulsão nacionalista), o terrorismo e, agora, a “guerra informática”.
É bom que haja liberdade de crítica e “contra-pesos” que mantenham em respeito os tecnocratas estatais. Sem isso, a tendência para os abusos do poder seria ainda muito maior. Mas os mandantes dos grandes interesses (que não são apenas económicos) também usam essa mesma liberdade para os seus interesses particulares.
Estes jornalistas-Robin-dos-bosques do “WikiLeaks” em que campo se situarão? Pretenderão realmente ser parte de um controlo público sobre os desmandos eventuais da administração americana ou, por uma ou outra razão, estarão antes do lado dos radicais islâmicos, dos sobreviventes do comunismo leninista ou dos nacionalismos autoritários que por aí persistem? A tanto levará a antipatia por uma economia liberal e um regime democrático que os sustenta e respeita?
JF / 24.Out.2010
Contribuidores
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Lanza del Vasto
«Uma das coisas que mais me impressionou em Lanza del Vasto foi isto, de entre os vários ‘profetas’ do meu tempo, foi dos poucos – o único que conheci – que acompanhou o seu pensamento com a sua maneira de viver.»
Assim se refere António Alçada Baptista, no seu livro Pesca à Linha, algumas memórias, de 1998, ao autor de Peregrinação às Fontes, obra fundamental de Lanza del Vasto escrita entre 1936 e 1938, com primeira edição em França em 1943, e agora finalmente e pela primeira vez publicada em tradução portuguesa, que estará muito em breve disponível.
A pretexto do livro, embora não ainda sobre ele, um debate de pré-lançamento ocorre no Porto na terça 12 de outubro às 18:00 na Sala da Orquestra da Universidade Católica Portuguesa na Foz, Rua Diogo Botelho, nº 1.327. O debate, sobre Guerra, Paz e Não Violência, tem a participação de: Jorge Leandro Rosa e Jorge Teixeira da Cunha (professores universitários), Mário Brochado Coelho (advogado) e Pedro Jorge Pereira (animador da lista eletrónica Mahatma Gandhi).
Nessa obra, Lanza del Vasto, além de narrar de modo apaixonante todo um percurso pela Índia e a sua peregrinação às fontes do rio Ganges, situa no seu encontro com Gandhi os fundamentos de uma nova visão para um futuro do Ocidente liberto da guerra e baseado na não-violência.
Em apoio dessa edição portuguesa, foi lançada em Fevereiro de 2010 uma pequena campanha que consiste na compra antecipada, ou pré-compra, por parte de quem queira aderir e apoiar, de um ou vários exemplares. O editor compromete-se a entregar a obra aos pré-compradores, até 30 de Novembro salvo caso de força maior.
Todas as informações em:
http://www.sempreempe.pt/peregrinacao
Convidamos a aderir a esta campanha e a divulgá-la junto dos seus amigos.
Cordialmente, agradece a atenção
José Carlos Costa Marques
Assim se refere António Alçada Baptista, no seu livro Pesca à Linha, algumas memórias, de 1998, ao autor de Peregrinação às Fontes, obra fundamental de Lanza del Vasto escrita entre 1936 e 1938, com primeira edição em França em 1943, e agora finalmente e pela primeira vez publicada em tradução portuguesa, que estará muito em breve disponível.
A pretexto do livro, embora não ainda sobre ele, um debate de pré-lançamento ocorre no Porto na terça 12 de outubro às 18:00 na Sala da Orquestra da Universidade Católica Portuguesa na Foz, Rua Diogo Botelho, nº 1.327. O debate, sobre Guerra, Paz e Não Violência, tem a participação de: Jorge Leandro Rosa e Jorge Teixeira da Cunha (professores universitários), Mário Brochado Coelho (advogado) e Pedro Jorge Pereira (animador da lista eletrónica Mahatma Gandhi).
Nessa obra, Lanza del Vasto, além de narrar de modo apaixonante todo um percurso pela Índia e a sua peregrinação às fontes do rio Ganges, situa no seu encontro com Gandhi os fundamentos de uma nova visão para um futuro do Ocidente liberto da guerra e baseado na não-violência.
Em apoio dessa edição portuguesa, foi lançada em Fevereiro de 2010 uma pequena campanha que consiste na compra antecipada, ou pré-compra, por parte de quem queira aderir e apoiar, de um ou vários exemplares. O editor compromete-se a entregar a obra aos pré-compradores, até 30 de Novembro salvo caso de força maior.
Todas as informações em:
http://www.sempreempe.pt/peregrinacao
Convidamos a aderir a esta campanha e a divulgá-la junto dos seus amigos.
Cordialmente, agradece a atenção
José Carlos Costa Marques
terça-feira, 5 de outubro de 2010
República e democracia
É interessante comemorar o centenário da República em Portugal (na altura, apenas a 3ª existente na Europa) porque, apesar de todas as ilusões e disparates, foi ela que definitivamente acabou com essa ideia peregrina de um Povo ser visto como propriedade de uma Família, por muito ilustre que esta pudesse ser.
Mas os republicanos logo instalaram entre si uma luta sem tréguas pelo poder, permitiram a criação de um clima de violência nas ruas, agravaram a situação já péssima das finanças públicas e usaram de todos os meios repressivos do Estado para conter os movimentos operários e camponeses bem como as revoltas coloniais. E se foram relativamente tolerantes para com os monárquicos, foram-no menos para com os católicos e a Igreja. O resultado foi o retrocesso de 1926 e quase meio-século de ditadura branda.
O 25 de Abril de 1974 teve muitas parecenças com a revolução do 5 de Outubro. Temos de novo liberdade, mais democracia e Estado social, mas também uma verdadeira partidocracia e as contas públicas pelas ruas da amargura. Monárquicos, há-os por todo o lado, mas já deixaram de pensar na restauração. Felizmente, temos tido paz, além de um enriquecimento ilusório, que nos vai sair muito caro.
Mas, apesar de tudo: viva a República!
JF / 5.Out.2010
Mas os republicanos logo instalaram entre si uma luta sem tréguas pelo poder, permitiram a criação de um clima de violência nas ruas, agravaram a situação já péssima das finanças públicas e usaram de todos os meios repressivos do Estado para conter os movimentos operários e camponeses bem como as revoltas coloniais. E se foram relativamente tolerantes para com os monárquicos, foram-no menos para com os católicos e a Igreja. O resultado foi o retrocesso de 1926 e quase meio-século de ditadura branda.
O 25 de Abril de 1974 teve muitas parecenças com a revolução do 5 de Outubro. Temos de novo liberdade, mais democracia e Estado social, mas também uma verdadeira partidocracia e as contas públicas pelas ruas da amargura. Monárquicos, há-os por todo o lado, mas já deixaram de pensar na restauração. Felizmente, temos tido paz, além de um enriquecimento ilusório, que nos vai sair muito caro.
Mas, apesar de tudo: viva a República!
JF / 5.Out.2010
domingo, 3 de outubro de 2010
Efeitos da crise
Em Março, escrevia-se aqui que “é quase certo que haverá um PEC-II e talvez um PEC-III, com uma crise política pelo meio, para evitar que se chegue a algum ‘plano de falência’.” Estas fáceis previsões vão-se cumprindo, mais coisa menos coisa. Agora (dizem que tardiamente) vêm as primeiras medidas duras que atingem os rendimentos de que vivem grandes sectores da população; funcionários públicos, aposentados, beneficiários de apoios sociais, classe média. E não sabemos quais serão os efeitos dos cortes nos investimentos e nas despesas de funcionamento de muitos serviços públicos, nem os seus impactos numa economia (privada) que está anémica e já não vai recuperar a base industrial que perdeu.
Mas as grandes crises económicas, como esta que vivemos, têm sempre duas faces. A ‘face má’ incluirá certamente:
- situações aflitivas de pobreza e miséria para mais de um quinto da população;
- alto nível de desemprego, com enormes dificuldades de sobrevivência para as pessoas mais idosas e de baixa qualificação quando acaba o subsídio, e inserção ainda mais difícil dos jovens na vida activa;
- agudização da concorrência pelos postos de trabalho disponíveis, com depreciação dos salários, fuga fiscal, aumento do recurso à ‘economia subterrânea’ e eventuais reacções de xenofobia;
- incapacidade de muitos para pagarem os créditos contraídos, em particular para a aquisição de habitação própria;
- riscos de aproveitamento político no sentido de soluções nacionalistas/autoritárias.
A ‘face boa’ da crise pode apresentar aspectos como:
- saída do mercado de empresários incompetentes e empresas sem viabilidade, que só sobreviviam de expedientes ou apoios públicos;
- estimulação das empresas competitivas e inovadoras, em particular as capazes de actuar nos mercados externos;
- reforma obrigada da administração do Estado e dos serviços de interesse público, no sentido de melhor eficiência;
- redução das subsidiações, dependências e favores políticos, à custo do erário público, criando uma concorrência mais sã e com maior verdade dos preços;
- restrição dos níveis de ambição de consumo por parte das famílias, propiciando uma revisão de objectivos de vida mais modestos e realistas;
- maior pressão do criticismo geral contra as disparidades económicas exageradas entre ricos e pobres, levando as grandes fortunas e os altos gestores (em grande medida, responsáveis pela crise actual) a uma atitude mais cautelosa e atenta ao mundo em que todos estamos inseridos.
JF / 3.Out.2010
Mas as grandes crises económicas, como esta que vivemos, têm sempre duas faces. A ‘face má’ incluirá certamente:
- situações aflitivas de pobreza e miséria para mais de um quinto da população;
- alto nível de desemprego, com enormes dificuldades de sobrevivência para as pessoas mais idosas e de baixa qualificação quando acaba o subsídio, e inserção ainda mais difícil dos jovens na vida activa;
- agudização da concorrência pelos postos de trabalho disponíveis, com depreciação dos salários, fuga fiscal, aumento do recurso à ‘economia subterrânea’ e eventuais reacções de xenofobia;
- incapacidade de muitos para pagarem os créditos contraídos, em particular para a aquisição de habitação própria;
- riscos de aproveitamento político no sentido de soluções nacionalistas/autoritárias.
A ‘face boa’ da crise pode apresentar aspectos como:
- saída do mercado de empresários incompetentes e empresas sem viabilidade, que só sobreviviam de expedientes ou apoios públicos;
- estimulação das empresas competitivas e inovadoras, em particular as capazes de actuar nos mercados externos;
- reforma obrigada da administração do Estado e dos serviços de interesse público, no sentido de melhor eficiência;
- redução das subsidiações, dependências e favores políticos, à custo do erário público, criando uma concorrência mais sã e com maior verdade dos preços;
- restrição dos níveis de ambição de consumo por parte das famílias, propiciando uma revisão de objectivos de vida mais modestos e realistas;
- maior pressão do criticismo geral contra as disparidades económicas exageradas entre ricos e pobres, levando as grandes fortunas e os altos gestores (em grande medida, responsáveis pela crise actual) a uma atitude mais cautelosa e atenta ao mundo em que todos estamos inseridos.
JF / 3.Out.2010
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