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sábado, 24 de julho de 2010

Ainda Espanha

J., lindo texto sobre a minha querida España. Este sentimento contraditório de pertença e diferença, que une e desune desde tempos imemoriais esta nossa vizinha que, por vezes, procurou em nós a forma de fazer esquecer os problemas que leva dentro de si. Nós pelo contrário pobrezinhos e tristes, cunhados no complexo de Édipo que nos gerou, acabámos embalados por brandos costumes, falta de ambição e querer, apaziguados pelo destino que Deus por Sua glória nos entendeu conceder neste mundo – também aqui o futebol serve às mil maravilhas para nos comparar e distinguir – que as nossas touradas sempre foram menos sanguinolentas é certo – coisas de gente chique e não do vil e reles povo – mas em compensação bem menos nobres… O nosso tempo de glória e conquista tem fogachos, acendalhas de bravura e feitos históricos, momentos de orgulho e depressão nacional (e nisto também nada termos de hermanos, por supuesto).

Mas o risco de implosão não vem só do lado, vem de todos os lados. Todos nós estamos sobre o barril de pólvora da implosão. Eu apoio o Senhor Zapatero por brindar “não as supostas vanguardas com medidas de ruptura cultural que ofenderam a população mais tradicional, a igreja católica ou o mundo taurino, e inquietaram o exército”, mas toda a España. Mais convicto e verdadeiro a este propósito que o seu congénere português a quem esse efeito de diversión politica, efectivamente, se aplica. O Senhor Sócrates nisto e em tudo o mais só é comparável com uma espécie de mau remake do Senhor Zapatero, exemplar made in China. A transição democrática dos nossos vizinhos foi bonita mas não teve cravos vermelhos. Em contrapartida não cometeu os excessos próprios das utopias revolucionárias, não mandou capitalistas para a prisão nem perseguiu MRPPs que estão agora bem na vida, ou no PS ou PSD (recuperaram bastante bem do cárcere, portanto), não provocou a fuga de fortunas para o Brasil e não deixou como relíquia um PC à moda antiga. Parece que ao fim e ao cabo de todos foram estes os menos molestos Mas do outro lado da fronteira, depois de tudo, ainda ficou um Tejero, veio ao de cima a verdadeira natureza violenta do macho ibérico e à Igreja uma herança de bens infindos de poder transcendental e terrenal. De padres e freiras ainda não consta que haja escassez, tal a dimensão do stock acumulado. Ainda bem, pois, que as medidas de Zapatero ofenderam a população mais tradicional, porque a população mais tradicional ofendeu e quer continuar a ofender o respeito pelos mais elementares Direitos Humanos. A população tradicional de que falas só podem ser os filhos e filhas, bons e maus, de Falanguistas e de monseñor Josemaria Escrivá de Balaguer.

Uma última palavra para a Europa. Que se cuide sim, estou de acordo contigo. Porque nacionalismos e extremismos não faltam por ai. Não só em España mas por todo o lado e onde não existirem eles nascerão. Mas a culpa não é das nações europeias (eu defendo as nações europeias e ibéricas), elas ressurgirão, por todo o lado, uma e outra vez, como os talibãs. Alimentaram-se quando à “Europa” deu jeito – e à América – nas ex-Repúblicas Soviéticas, não esqueçamos, com a nossa ajuda, grande irresponsabilidade e não menor cinismo. Nisto o modelo europeu é um péssimo modelo…. Somos todos chineses!!! Mas elas estão também para cá do muro de Berlim, é bom não esquecer. Não desaparecerão, estão ai e não merece a pena metê-las debaixo do tapete. E isto não é só um problema de economia expansiva, é um problema de governança ou falta dela na Europa. Enquanto esta Europa e já agora a economia mundial continuar a ser governada pelos mercados e figuras como o Senhor Barroso, Merkel, Cameron, Berlusconi (ao Sócrates perdou-o porque já não governa) e Cª, a implosão não mora ao lado, mora por todo o lado.
Vítor Peña Ferreira / 22.Julho.2010

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Espanha, de Julho a Julho

Ontem, dia 18, os franquistas e o seu regime festejavam o “alzamiento”. Hoje, dia 19, os antifascistas celebram o levantamento popular das esquerdas que, em Madrid, Barcelona e outras cidades, travou o que estava planeado como devendo ser um golpe-de-estado militar, em 1936. É certo que se tratou de um genuíno gesto de revolta de séculos do povo deserdado contra a altivez e o desprezo que lhe votavam os “grandes de Espanha”, mas também aí se deu início a uma sangrenta guerra civil que se tornou num campo de manobras internacionais.
Com quatro décadas de ditadura e três de democracia, a Espanha voltou a ser um grande país na cena europeia. Tem recursos e condições para isso, mas também a espreitam algumas velhas ameaças: acima de tudo, a intolerância e o confronto.
Ao mesmo tempo que a despolitização cresce na população e o orgulho hispânico se enche com amplas realizações e ambições de grandeza, os nacionalismos internos, a luta partidária e a memória do franquismo trabalham, pelo contrário, para a desagregação e o enfraquecimento do próprio quadro europeu, no seu conjunto.
No meio da alegria dos campeões futebolísticos logo se viu a bandeira catalã exibida por dois dos seus jogadores. E na véspera, milhares de militantes haviam enchido as ruas de Barcelona para protestar com palavras fortes contra o tribunal constitucional que acabara de negar à região o termo de “nación”, mantendo o actualmente consagrado de “nacionalidad”.
Enquanto a economia foi expansiva (mesmo quando assentava em bases financeiras frágeis, como agora se vê, mas já antes os escândalo imobiliários prenunciavam), a esquerda-PSOE pôde brindar certas supostas vanguardas sociais com medidas de ruptura cultural que ofenderam a população mais tradicional, a igreja católica ou o mundo taurino, e inquietaram o exército. Mas agora que o desemprego voltou aos 20% e que a imigração se sentirá mais ameaçada, não vão bastar as “movidas” que entretêm os jovens, os filmes de Almodovar ou as enebriantes celebrações dos “campeones”.
O juiz Garzón mostrou já sobejamente o seu espírito independente ao tentar incriminar Pinochet e, simultaneamente, não ceder às manobras dos “etarras”. Mas o seu “caso” de agora já foi apanhado pela máquina trituradora da luta política que vem animando a questão da “memória histórica” da guerra civil e da ditadura franquista.
É bom que se redescubra e reconheça o passado sem os preconceitos próprios dos vários contendores. É justo que se dignifique, por igual, a memória de todos os que tombaram e sofreram em condições de grande infelicidade colectiva. Mas deve cuidar-se que tal não seja o pretexto para relançar novas dinâmicas conflituais e destrutivas. O lado mais negro e triste do passado deve guiar-nos para evitar que façamos novas asneiras.
JF/19.Jul.2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Dez nomes portugueses marcantes do Séc. XX

D. Carlos de Bragança – último rei de Portugal, interventor na governação e que acabou assassinado no Terreiro do Paço.
Afonso Costa – o inteligente promotor da República jacobina, modernizadora-à-força, anti-clerical e “racha-sindicalistas”.
Oliveira Salazar – o homem das finanças-em-ordem e da “ordem nas ruas” que dirigiu Portugal durante quase meio-século.
Álvaro Cunhal – o corporizador da uma imaginária contra-sociedade, comunista e de “mão-de-ferro”.
Mário Soares – inquebrantável e astuto político, que orientou o país para a Europa.
Gago Coutinho – uma vida vida simples e venturosa, de republicano e homem do mar, sobrevoando os Atlânticos.
Fernando Pessoa – o indefinível e inencontrável, salvo nas palavras.
Eusébio – ícone da bola e do Portugal africano.
José Saramago – o anjo vermelho da escrita.
A “Senhora de Fátima” – mito sagrado que congregou milhões.

JF/9.Julho.2010

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